essência da palavra

O que portanto é aqui necessário para escapar a esse conjunto de paradoxos é uma elucidação radical da essência da palavra. Somente [305] tal elucidação é suscetível de estabelecer que há duas palavras. A palavra humana, composta de palavras portadoras de significações, por um lado. Consideradas em sua apresentação escrita imediata, as Escrituras são uma palavra deste gênero, um conjunto de textos que obedecem às leis gerais da linguagem, dessa linguagem de que fazem uso os homens e que lhes permite, crê-se, comunicar-se e compreender-se entre si. A outra Palavra, de que vamos tratar, difere por natureza de toda e qualquer palavra humana. Ela não compreende palavras nem significações, significante nem significado, não tem referente, não provém, propriamente falando, de um locutor e tampouco se dirige a nenhum interlocutor, a quem quer que, seja quem for, existisse antes dela – antes que ela tenha falado. E esta outra Palavra o que nos permite compreender a palavra das Escrituras e, bem mais, que esta palavra é de origem divina. E esta outra Palavra que nos permite compreender a palavra das Escrituras e, bem mais, que esta palavra é de origem divina. E unicamente esta outra Palavra, que nos permite compreender não só o conteúdo da palavra das Escrituras mas também a origem divina desta palavra, que é a Palavra de Deus. Convém então examinar a natureza dessas duas palavras, a das Escrituras, semelhante a toda palavra humana, e esta outra Palavra, mais antiga, essencialmente diferente, e à qual, e somente a ela, devemos o entender a palavra das Escrituras, seu conteúdo e sua origem. (Michel Henry, MHSV)