Forma e Número dos Anjos

Archibald Joseph Macintyre [MARA]

Santo Tomás na Questão L, artigo III da Suma Teológica, após esclarecer a controvérsia entre os que achavam que o número de Anjos deve ser pequeno e os que pensavam o contrário, concluiu:

— “Deve-se admitir portanto, que também os Anjos, como substâncias imateriais, existem em imensa multidão, superior mesmo, a toda multidão material” (Art. III).

A razão disto é que, sendo a perfeição do universo uma consequência do plano de amor de Deus na criação das coisas, quanto mais grandiosos e perfeitos forem os seres, com tanto maior prodigalidade devem ter sido por Ele criados. Porém, para os corpos, a grandiosidade se aprecia pela magnitude dos mesmos, enquanto no caso de seres incorpóreos, só pode ser apreciada pela multitude, isto é, pela multidão desses seres espirituais, individuais e pessoais.

No caso dos Anjos, não se pode à rigor falar em número, no mesmo sentido de quantidade discreta causada pela divisão do contínuo em partes. Para a quantidade, trata-se do número causado pela distinção entre as formas, enquanto a multidão pertence ao conceito filosófico dos “transcendentais”.

Aristóteles acreditava que a movimentação dos astros era realizada por espíritos celestes, e concluía que o número destes deveria ser pequeno, uma vez que supunha pequeno o número dos astros. Santo Tomás ao contrário, mostra que as substâncias separadas, isto é os espíritos celestes, não existem por causa das substâncias corpóreas, para proporcionarem movimento às mesmas, pois o fim sendo mais nobre que os meios, Deus não criaria seres dotados de extraordinárias perfeições para servirem como simples agentes motores.

A multiplicidade dos Anjos não é fundada na matéria nem nos corpos materiais sobre os quais os Anjos têm poder para atuar, mas é fundada na sabedoria divina que houve por bem dar existência às diversas ordens de substâncias espirituais, para promoverem sua glória extrínseca e de realizarem sua vontade.

Em vários trechos da Sagrada Escritura, vemos referências à inumerável multidão dos Anjos, naturalmente com o estilo de comunicação e expressão literária próprias dos autores da época, mas deixando perfeitamente claro o pensamento do autor quanto à impossibilidade de se saber o número dos mesmo.

No Livro do profeta Daniel (7,10), lemos:

— “Milhares de milhares O serviam e mil milhões a Ele assistiam”. No Apocalipse (5,11): — “Vi e ouvi de muitos Anjos em redor do trono dos vivos e dos anciãos, em número de miríades e de milhares de milhares”.

Na epístola de São Paulo aos Hebreus (12,22): — “Porém, vós haveis chegado ao monte Sião, à cidade de Deus Vivo, à Jerusalém celestial e aos miríades de Anjos”.

Em São Lucas (2,13), lemos na narrativa da Anunciação do Anjo aos pastores de que havia nascido o Salvador. — “Nesse momento se juntou ao Anjo uma multidão do exército celestial que louvava a Deus…”

São Mateus narra (26,53), que Jesus dirigindo-se a Pedro no Jardim das Oliveiras quando os soldados e as turbas O vieram prender, disse: — “Não crês que posso pedir a meu Pai, que me enviaria imediatamente doze legiões de Anjos?”

São Roberto Belarmino S.J. (1542-1621), o grande teólogo, Doutor da Igreja, encarregado por Gregório IV de rever a Vulgata (Bíblia) e considerado o maior contraversista de seu tempo, escreveu:

— “É inumerável a multidão dos Anjos designados para a guarda dos homens.”

— “Devemos pois crer, que Deus, por sua sabedoria e poder, criou inumeráveis Anjos” (Concílio de Trento, 1 art. Símbolo n? 17, p. 1? Cap. 2, a). Especular sobre qual seja o número dos Anjos, representa pois, pura perda de tempo e pesquisa totalmente estéril. Em suma, se os Anjos são inumeráveis, não podem evidentemente ser contados.

Não vale a pena conjecturar como fizeram Santo Hilário, Santo Ambrósio de Milão, Santo Agostinho e outros, que, da parábola da ovelha perdida dentre 100, imaginaram que a ovelha perdida representa o homem, e as 99 outras, os Anjos, e que a proporção de Anjos para os homens que se salvam, seria de 99 para um.

Alguns santos tiveram o privilégio de visões de miríades de seres angélicos, conforme se lê por exemplo, nas vidas de Santa Francisca Romana e da bem-aventurada Angela de Foligno (ver Capítulo 22). …page… Wiki page pagination has not been enabled.