Francisco García Bazán — Gnosis
Epístolas aos Coríntios
Para alguns estudiosos, escritos claramente anti-gnósticos. Bazán vê, no entanto, poucos indícios do gnosticismo como nas cartas anteriores. Em 1Cor se apresenta uma polêmica interna na Igreja de Corinto, que parece mais um conflito de personalidades do que doutrinas; Paulo teme que se degenere em debate mundano (sabedoria do mundo). Sobre este aspecto recomendo ver o estudo de Simone Petrement.
Desse modo sabe Paulo que Apolo não o põe, porque olha a Deus, como sabe que outros confiam mais nos recursos humanos. São estes os que se equivocam a aconselha assim também o Apóstolo com magnânimo e profundo critério, seguir os ditados da consciência movida por Deus.
Por último, um discurso sobre a ressurreição de Cristo, onde Paulo está longe de ser um anti-gnóstico, muito pelo contrário inspirador da doutrina gnóstica da ressurreição e do homem (vide Irineu de Lião e Evangelho de Felipe). Assim não encontramos nesta epístola rastros de gnosticismo, porém terminologia e ideias familiares aos gnósticos.
Mas se tampouco nesta Epístola há rastros de gnosticismo, encontramos, sim, uma vez mais, uma terminologia e ideias familiares entre os gnósticos.
*O tópico central, por oposição à mera sabedoria profana, é a afirmação da sabedoria dos perfeitos, que não é a deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, senão de Deus. Misteriosa, escondida, destinada por Deus, desde antes dos séculos para nossa glória. Há desta maneira distinções que se devem ter em conta. Há um espírito do mundo e um espírito de Deus, o espiritual se expressa espiritualmente, o homem psíquico (carnal e racional) não capta as coisas do espírito de Deus. O espiritual, pelo contrário, capta tudo e ninguém o pode julgar. Estes perfeitos são santo dos santos e ao que não é espiritual há que falar-lhe como a carnal, como a meramente humano.
*Deus revela esta sabedoria dos perfeitos pelo Espírito e este sonda até as profundidades de Deus.
Em 2Cor encontramos os primeiros elementos que sem ter a ver com um sistema de gnosis cristã, assinalam um dos filões que tiveram que ver com sua aparição histórica. Há nos capítulos 11 e 12 desta epístola alguns elementos positivos que convém analisar. Combate Paulo personagens e orientações presentes na comunidade de Corínto que apresentam estes caracteres: hebreus e ministros de Cristo e também dotados de eloquência e de ciência e, capazes de perverter a mente dos coríntios, por se considerarem “super-apóstolos”, embora Paulo os trate como “falsos apóstolos”, e incluso se vangloriam de ter uma suprema experiência espiritual, raptos ou revelações místicas das que provêm sua segurança doutrinária.
*A ideia de ser “mais que apóstolos” tem que ver com a noção de gnosis e a expressa bem o Irineu de Lião aos seguidores de Carpocrates.
*O rapto ou contemplação mística referidos por Paulo se inscrevem na mística hebraica (vide Livro de Enoque, Vida de Adão e Eva, Apocalipse de Moisés, e as análises de Gershom Scholem)
Paulo afirma que tampouco ele esteve isento de tais experiências extraordinárias, mas que elas são inferiores a sua intuição do mistério de Cristo, ao qual se subordinam e coloca como pedra de toque necessária do caráter de apóstolo : “paciência perfeita nos sofrimentos e também sinais, prodígios e milagres”, o a mais não afeta a tal estado, mas tampouco o justifica.
Neste conjunto de alusões cremos encontrar a seguidores de Cristo, que segundo correntes místicas hebraicas da época, confiam mais na profundidade de sua experiência religiosa pessoal que na doutrina revelada por Jesus Cristo, que enquanto participante de similar sentimento espiritual, chega a ser seu par, o Homem Perfeito.
*Esta é a tese gnóstica central; como sabemos e sob ela se refletem as vicissitudes cristológicas. Estes cristãos esotéricos tinham a sua, quiças vinculada às especulações sobre os sete membros do homem segundo aparecem no Bahir como antecedentes do Adam Qadmon da Idade Média cabalística (Gershom Scholem).