O esoterismo judaico-cristão e os símbolos que lhe servem de veículo nas iniciações artesanais do Ocidente frequentemente demandam um certo conhecimento da língua hebraica. (vide Jean Hani, “O Simbolismo do Templo Cristão).
A tradição cristã embora não repousando sobre nenhuma língua sagrada, guarda também símbolos de iniciação.
A corporificação do Verbo, que caracteriza o cristianismo, implica que a presença divina não seja apenas contida na revelação idiomática, mas na carne (sarx), quer dizer no alimento sagrado eucarístico. Todo cristianismo se mantém na constatação de João: «E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” (Jo 1:14)
Entre as consequências quanto às modalidades doutrinais e aos comportamentos sociais, está em evidência no plano litúrgico, a natureza específica do memorial atualizando a presença da divindade, pela nutrição consagrada deificadora — “façam isto em minha memória” — que substitui a invocação do Nome divino praticada em outras tradições abraâmicas (vide Liturgia).
No hesicasmo (hesychia) a comunhão ao corpo e ao sangue do Verbo pode ser acompanhada de uma “lembrança do nome de Jesus” (vide Nome Jesus), que independente de língua sagrada, concentra do mesmo modo a memorização intelectiva do orante sobre a pronúncia do Nome divino mediador. Em alguns casos, na tradição ortodoxa do Oriente, especialmente cenobítica e eremita, a prece de Jesus (Kyrie Eleison) pode substituir a comunhão eucarística. Note-se ainda que o rosário da igreja latina, assim como certas litanias, tomam seu ritmo invocatório de dois nomes “mediadores”, Jesus e Maria. Na antiga liturgia católica acompanhava-se a comunhão do padre de uma fórmula significativa: “Tomarei o cálice da salvação e invocarei teu nome Senhor …”.
Na reforma da liturgia Vaticano II é interessante notar o papel “ativo” dado ao comungante ao ter que proferir “Amém” antes de receber a hóstia. Haveria uma correspondência entre a Eucaristia, a invocação do Nome do Senhor e o emprego do termo hebreu “Amém”? Lembrar que Aleluia e Amem são alguns dos termos preservados na tradição cristã, de origem hebraica.
Amém é comum a todas as confissões e igualmente às três religiões abraâmicas. Poderia se dizer que se trata de um termo chave, reunindo em uma mesma raiz semítica em uma língua sagrada, as três filhas espirituais do monoteísmo.
Segundo o Sr. Denys Roman, em artigo na revista Les Etudes Traditionnelles, pode-se aplicar ao texto latino do Pater (vide Pai Nosso) certos procedimentos da Cabala: 7 x 3 termos de votos celestes e 7 x 4 termos de demandas terrestres, formando 49 termos ao todo — “se se se soma ainda o termo Amém, este termo hebraico que termina obrigatoriamente todas as preces (euche) cristãs e que também termina a primeira surata do Corão, desempenhando assim o papel transcendente de “unificador” entre as tradições monoteístas, e por outro lado “sacralizando” de alguma forma as orações pronunciadas, em uma língua não sagrada, um pouco como o aerólito em uma estátua, o número total de termos do Pater seria de 50, o qual não se precisa salientar a importância simbólica”.
Sr. Jean Duprat em artigo sobre o “Pater” explica as diversas significações árabes e hebraicas derivadas da raiz Amém:
- para o árabe:
- ser fiel, estar seguro (vocalização da primeira forma verbal)
- confiar algo a alguém, tranquilizar alguém
- acreditar, ter fé
- fé religiosa, sinceridade, lealdade, segurança
- o crente, o lugar seguro, a melhor parte
- para o hebraico:
- (he, Aleph, Mem, Noun)
- ser criado, estável, ser verificado
- acreditar, acrescentar fé, ser assegurado
- (Aleph, Mem, Vav, Noun)
- afiançado, pupilo, povo, multidão
- verdade, lealdade, estabilidade
- (Aleph, Mem, Noun)
- fé, probidade, fidelidade, constante, imutável
- artista, artesão
- criar uma criança, nutrir, amamentar
- (Aleph, Mem, Noun, he)
- pacto, convênio, salário
- certamente, de fato, lintéis
- (he, Aleph, Mem, Noun)