Ysabel de Andia Hesychia

Ysabel de AndiaHESYCHIA

Excertos traduzidos de “Mystiques d’Orient et d’occident”

“Assim como um homem forte domina seu intelecto até que se conclua a ação, assim também a obra venerável da hesychia é um porto de mistérios”.

“Assim como o piloto de um navio tem os olhos fixados nas estrelas, assim também o monge, em sua contemplação interior, ao longo de seu caminho, é atento à meta que se fixou em seu intelecto, o primeiro dia em que resolveu ir no mar tão duro da hesychia, até que tenha encontrado a pérola para qual mergulhou nas profundezas insondáveis do mar”. (Isaque de Nínive)

Esta imagem parabólica da pérola , Isaque a toma dos Hinos da Pérola de Efrem de Tiago de Saroug. Em Efrem são os apóstolos que mergulharam no mar para retirar a pérola do Cristo, em Isaque de Nínive, o mergulhador, é o monge; e a hesychia, é ao mesmo tempo “o mar tão duro” e o “porto dos mistérios”.

Em outro Discurso, Isaque diz:

“O nadador mergulha nu no mar, até que tenha encontrado a pérola. Assim o monge sábio atravessa nu esta vida, até que tenha encontrado nele mesmo a pérola, Jesus Cristo. E quando a tenha encontrado, não busca mais possuir o que quer que seja de outro que ela. A pérola se guarda nos tesouros. E as delícias do monge se mantêm dentro da hesychia. (TRATADO MÍSTICOS LXXIII)

A hesychia é o tesouro onde o monge guarda a pérola que encontrou: o Cristo. A hesychia não é a meta: a pérola é o Cristo, mas ela é o tesouro que guarda a pérola, e se o monge perdesse este tesouro, ele perderia a pérola. Mas o que é a hesychia?

A hesychia é a princípio a renúncia ao mundo e o repouso em Deus.

“A alma que ama Deus encontra em Deus somente seu repouso. Começa por te liberar de toda ligação exterior e tu poderás ligar teu coração a Deus. Pois é preciso se desprender da matéria do mundo antes de se unir a Deus. É quando é cortado o leite que se dá a comer do pão ao bebê. Da mesma forma o homem que quer se abrir ao divino deve assim se desprender do mundo, como a bebê dos seios de sua mãe”. (TRATADOS MÍSTICOS XXIII)

Isaque emprega uma imagem maternal para exprimir a necessidade de desapego do mundo para a união a Deus. O homem deve “se desapegar” da terra maternal, como o pequenino dos seios da mãe, para se abrir ao divino e repousar nele. Esta imagem tão original da fuga do mundo como rompimento prossegue pela evocação da fome do mundo, fome de pão e de palavra. ë preferível para o monge de “satisfazer aqueles que têm fome no mundo” por seu ensinamento ou permanecer, longe do mudo, na hesychia? A resposta de Isaque estabelece uma ordem de preferência:

“Ame te separar da criação na hesychia mais que satisfazer aqueles que têm fome no mundo… É melhor para ti ter a alma em paz na harmonia da trindade que está em ti — quero dizer a alma, o corpo e o espírito — do que apaziguar por teu ensinamento aqueles de que se afligem. Gregório disse que é bom estudar a teologia, mas que é melhor se purificar para o amor de Deus. É melhor falar pouco e ter verdadeiramente conhecimento e experiência, ao invés de deixar correr com força tua inteligência o ensinamento como um rio. É mais importante para ti se aplicar portando teus pensamentos nas coisas de Deus a levantar tua alma decadente sob as paixões, que ressuscitar os mortos” (TRATADOS MÍSTICOS XXIII).

A hesychia é preferível a toda obra beneficente, nutrir os corpos e os espíritos, e a toda obra de poder, como ressuscitar os mortos. A força das comparações demonstra a grandeza e a seriedade da hesychia: a experiência das coisas de Deus está acima de tudo e ela exige que se sacrifique tudo a ela.