Digo ainda: O fato de um homem ser virgem não lhe retira todas as obras que tenha feito; de tudo isso ele permanece virginal e livre, sem nenhum obstáculo em relação à verdade suprema, assim como Jesus é liberto e livre e virginal em si mesmo. Como dizem os mestres que só a semelhança do semelhante estabelece a união, o homem deve ser virgem, para receber o Jesus virginal. [Eckhart Sermão 2]
O terceiro parágrafo [do Sermão 2] define a condição sob a qual a união com Cristo será possível através da sua recepção ou concepção. É baseado em uma semelhança. O homem liberto de todo apego (eigenschaft) às imagens e às obras recebe necessariamente Jesus, a quem a sua nova liberdade o assimila. Jesus “emancipado, livre, virginal em si mesmo”, que sem qualquer apego realizou a sua obra de salvação, é modelo e realidade de um ser que assumiu a sua liberdade original; ele é a pessoa desapegada por excelência.
Também é por esta exemplaridade que se define a condição de possibilidade de união com Cristo: liberar-se de toda posse de imagens e obras, seguir Jesus no caminho do desapego, é “ser virgem para receber o Jesus virginal”. Livre de qualquer vínculo de propriedade com a sua obra, Cristo nos redimiu; livre do apego às imagens, o cristão a concebe em pura receptividade. Renuncia a segurar as coisas através do seu prazer. A sua desapropriação, vazio de imagens, assimila-o ao Filho de Deus, e une-se a Ele, uma “virgem” recebendo uma “virgem”.