THOMAS MERTON — TEMPO E LITURGIA
O SACRAMENTO DO ADVENTO NA ESPIRITUALIDADE DE SÃO BERNARDO (cont.)
A IMPORTÂNCIA DE RECONHECER A VINDA DO SALVADOR
A vigilância é uma expressão particular da pureza de coração monástica — a virgindade do espírito “própria” à vida de contemplação. Deixamos tudo para vigiar na noite “sobre os muros de Jerusalém”. Esperamos a Parusia, com as lâmpadas preparadas, como as virgens prudentes. Esta é uma verdade cristã básica, comum a todos, mas a que os monges dão ênfase especial. É um aspecto importante da espiritualidade de São Bernardo.1)
No prelúdio ao primeiro Sermão do Advento, São Bernardo estabelece o contraste entre o monge vigilante e aqueles que não prestam atenção à vinda do Salvador. Estes não têm de modo algum a consciência de que precisam de um Salvador. Assim, não estão cientes de sua presença. São como os que pereceram no dilúvio. Agarram-se a todo pedaço de palha “como às raízes da grama”, procuram a firmeza apenas onde ela os ilude, pois não lhes pode oferecer apoio.2
Compete ao monge procurar uma realidade que tenha verdadeira substância e não seja mera aparência. O monge vive das realidades reveladas por Deus à sua Igreja sobretudo na Bíblia. O modo, portanto, pelo qual o monge apreende as realidades substanciais da vida, aquelas que são sólidas e permanentes, é a penetração com uma laudabilis curiositas nos mistérios da fé na liturgia da Igreja. Seguindo um caminho solitário e austero, privados de consolação humana, vivendo no despojamento da pobreza, conscientes de sua dependência para com Deus, os cistercienses vivem “como os pequeninos”, filhos pequenos da Igreja. Assim, procuram o próprio Deus para além de todas as coisas visíveis. E porque o procuram na fé, Ele vem a eles escondido no Sacramentum do Advento.3 Todavia, não devemos pensar que esse encontro com Deus é meramente resultado da negação do corpo e afirmação da alma. É o homem todo que, no Advento, sai ao encontro de Cristo ou o rejeita com indiferença.
Vos nolo ignorare tempus visitationis. (Serm. 4, Adv., n.1 ↩
Peritura sectantes amittunt solida quibus apprehensis emergere et salvare possent animas suas. Serm. 1, Adv. n.1. ↩
Neque enim tam devote Ecclesia universa praesentem celebraret Adventum, nisi lateret in eo ALIQUOD MAGNUM SACRAMENTUM. Serm. 1, Adv., n.1. ↩