Arthur Versluis — THEOSOPHIA
Gnose e Angelofania
Partindo de Dionísio o Areopagita, Versluis desvenda uma “tradição iniciatória cristã”, que parte do pressuposto que os seres humanos podem participar de graus progressivamente mais puros de iluminação, e que o que existe no macrocosmo pode ser encontrado no microcosmo também. Assim fundamenta-se um princípio de participação correspondente do indivíduo na hierarquia celestial. A hierarquia, ou o iniciador espiritual, é aquele que realizou co conhecimento metafísico e pode introduzir a pessoa buscando iniciação nos graus de luz que o iniciador pessoalmente realizou.
Dionísio, em seu tratado Hierarquia Celestial, vês esta ascensão iniciatória, incluindo iniciadores angélicos e humanos, ocorrendo através de manifestações iluminativas do raio de luz central, que unitário e simples, é o eixo da existência (v. Raio Divino). Generoso por si mesmo, este raio eleva e unifica aqueles seres para os quais tem responsabilidade providencial, enquanto ele mesmo permanecendo sempre estável, simples e imutável. Entrando na multiplicidade, o raio retém esta natureza transcendente e simples enquanto ao mesmo tempo se acha “coberta” pelos “véus sagrados” da escritura e da liturgia, assim como pelo mundo natural. Em outras palavras, é teofânico, revelando Deus ao nosso redor. A escritura e a liturgia talvez sejam formas mais concentradas de teofania do que a natureza, todavia algumas almas abençoadas talvez contemplem o raio mais diretamente nesta do que naquelas.
Tal contemplação vem através da revelação, pois a função dos seres superiores é iluminar aquele abaixo deles, enquanto eles próprios pro sua vez são iluminados por aqueles acima deles (v. Cadeia do Ser). Um revelador é por definição uma anjo; eis porque iniciadores humanos são denominados angélicos por Dionísio e Orígenes. É dito que seres humanos podem ascender mesmo acima dos anjos, mas na medida que nossa tarefa é revelar, somos capazes de ser mensageiros divinos e assumir a função de um anjo. De fato, é dito inclusive que Cristo é um anjo para humanidade, o principal entre os anjos, posto que é a perfeita conjunção do divino e do humano, o perfeito mensageiro, e por conseguinte o centro do reino angelical: o perfeito revelador porque é a revelação ela mesma.
Angelofania, teofania e gnose são indivisíveis nesta tradição, pois o anjo é o meio da revelação divina, que é ela mesma nada mais que a gnose. De fato, não pode haver gnose sem um revelador angélico — e se pode dizer que o anjo “é” a revelação, assim como o anjo é a manifestação divina. Deus é a fonte da revelação, assim como o sol é a fonte da luz; mas os anjos reflete, e transmitem aquela luz assim como os planetas o fazem para o sol. Dionísio trata esta questão na “Hierarquia Celeste” quando fala de um certo teólogo — certamente seu próprio iniciador espiritual, Hierotheus — que foi purificado pelo Serafim e elevado um grau muito sagrado de contemplação santa. Sua era a visão do Divino, mas era mediada através do santo Serafim que era seu revelador.
Assim é com toda revelação, afirma Dionísio. A iluminação espiritual, originando com Deus, passa dos seres superiores aos inferiores, pois se assim não fosse os seres mais baixos seriam oprimidos pela luz. Os seres angélicos purificam pela iluminação. Permitem a participação no Divino, e esta participação é ela mesma purificação — pois lavados em tal beatitude que poderia pensar em coisas mundanas? E assim toda a tradição iniciática cristã necessariamente deriva das hierarquias angélicas, que possuem uma existência objetiva mas também correspondem às possibilidades humanas. Os iniciados ascendem através de níveis espirituais ou hierarquias as quais são capazes. Os seres humanos são deificados na medida que podem realizar o angélico — na medida que o angélico por revelar a si mesmo neles e para eles.