Ora, o primeiro ensinamento prático — porque os Arcanos Maiores do Tarô são exercícios espirituais — do quinto Arcano (v. Papa) se refere à respiração espiritual.
Existem duas espécies de respiração: a horizontal, entre o “exterior” e o “interior”, e a vertical, entre o “em cima” e o “em baixo”. O “aguilhão da morte” ou a crise essencial da agonia suprema é a passagem brusca da respiração horizontal para a respiração vertical. Aquele, contudo, que, durante sua vida, aprendeu a respiração vertical, será libertado do “aguilhão da morte”. Nele a passagem de uma forma de respiração para a outra não será da natureza de um ângulo reto, mas da de um setor de círculo: J -> .A transição não será brusca, mas gradual e curvilínea, em vez de ter a forma de linha quebrada.
Ora, a essência da respiração vertical é a alternância da prece com a bênção ou a graça. Esses dois elementos da respiração vertical se manifestam em todos os domínios da vida interior — na razão, no coração e na vontade. Assim um problema da razão, não devido à curiosidade ou à compilação intelectual, mas à sede de verdade, é, no fundo, uma oração. E a iluminação que pode segui-lo é a bênção ou a graça correspondente. No fundo, também o verdadeiro sofrimento é sempre uma oração, e a consolação, a paz e a alegria que podem vir depois dele são efeitos da bênção ou da graça correspondentes a ele.
O verdadeiro esforço da vontade, isto é, o esforço cem por cento, o verdadeiro trabalho, é também uma oração. Quando o trabalho é intelectual, é a oração “santificado seja o teu nome”. Quando se trata de trabalho criativo, a oração é: “venha o teu reino”. Quando o trabalho visa a suprir as necessidades materiais da vida, a oração é: “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Todas essas formas de prece na linguagem do trabalho têm suas bênçãos ou suas graças correspondentes.
A lei da correspondência entre a coluna da oração (ou dos sofrimentos, dos esforços) e a da bênção (ou da iluminação, da consolação, dos frutos) está nas bem-aventuranças do Sermão do Mestre na Montanha. As nove (porque são nove, não oito) bem-aventuranças podem ser entendidas como fórmula da respiração vertical. Elas no-la ensinam.
Essa respiração é o estado de alma que o apóstolo Paulo designa como “liberdade em Deus”, que é nova maneira de respirar. De respirar o sopro divino, que é liberdade.
“O Senhor é o Espírito, e onde se acha o Espírito do Senhor aí está a liberdade” (2Cor 3,17).
O correspondente espiritual da respiração horizontal é a alternância da “extroversão” e da “introversão” ou a atenção à vida exterior objetiva e à vida interior subjetiva. A lei da respiração horizontal é: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”. Aqui está o equilíbrio dessas duas direções da atenção.
Quanto à respiração vertical, a sua lei é: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com todo o teu pensamento”. Nisso está a relação entre a oração e a bênção ou a graça.
Na respiração horizontal existem três planos como existem três estádios na respiração vertical.
Os três planos da respiração horizontal são: o amor da natureza; o amor do próximo; o amor dos seres espirituais hierárquicos (anjos etc).
Os três estádios da respiração vertical são: a purificação (pelo sopro divino); a iluminação (pela luz divina); a união mística (no fogo divino). (M22AMT)