A lâmina “O Papa” nos coloca na presença do ato da bênção. É da maior importância tê-la sob os olhos quando nos damos à interpretação tanto da contextura da lâmina toda como de cada um de seus elementos em particular. Por isso nunca devemos perder de vista que, seja qual for a interpretação que dermos do “Papa”, dos acólitos ajoelhados diante dele e das duas colunas atrás dele, e seja qual for o simbolismo que vejamos na tiara e nas três cruzes que ele segura — trata-se em primeiro lugar da bênção e dos problemas que ela comporta. Que é bênção? Qual é a sua fonte e qual o seu efeito? Quem tem autoridade para dá-la? Que papel tem ela na vida espiritual da humanidade?
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A Cabala compara o papel da oração e da bênção a duplo movimento, ascendente e descendente, semelhante à circulação do sangue. As preces da humanidade sobem a Deus, e, depois de “serem divinamente oxidadas”, transformam-se em bênçãos gue descem do alto para baixo. Por isso um dos “acólitos” da lâmina está com a mão esquerda para cima, e o outro com a mão direita para baixo. As duas colunas azuis atrás “do Papa” simbolizam em primeiro lugar essa dupla corrente, ascendente e descendente, das orações e das bênçãos. Ao mesmo tempo, “o Papa” mantém elevadas as três cruzes do lado da “coluna da prece” e do acólito em oração, enquanto do lado da “coluna da bênção” e do acólito que recebe (ou “inspira”) a bênção, a sua mão direita está levantada, no gesto de bênção.
Os dois “lados” da Cabala — o “direito” e o “esquerdo” — e as duas “colunas” da Árvore sefirótica, a coluna da Misericórdia e a do Rigor, como as duas colunas do Templo de Salomão, Jakin e Boas, correspondem perfeitamente às colunas da oração e da bênção da lâmina. Porque o Rigor estimula a prece, e a Misericórdia abençoa. O sangue “azul” venoso de Boas sobe, e o sangue “vermelho” arterial oxidado de Jakin desce. O sangue “vermelho” traz a bênção vivificante do oxigênio; o sangue “azul” livra o organismo do rigor do ácido carbônico. O mesmo sucede na vida espiritual. A asfixia espiritual ameaça aquele que não pratica a oração de modo algum; aquele que a pratica de algum modo recebe, de uma ou outra forma, a bênção vivificante. As duas “colunas” têm, pois, uma significação essencialmente prática — espiritualmente tão prática como a da respiração para a vida do organismo. (M22AT)