Mounier

Mounier, Emmanuel (1905-1950)

Nascido em Grenoble, estudou filosofia, primeiro em sua cidade natal e depois em Paris. Sofreu a influência de escritores e de pensadores como Péguy (1873-1914) e do filósofo russo N. Berdiaev. Alternou a docência da filosofia em institutos com a revista “Esprit”, que dirigiu até 1941, quando foi suprimida pelo governo de Vichy. Foi membro ativo da resistência francesa durante a ocupação alemã, passando vários meses na prisão. Depois da guerra, Mounier reavivou “Esprit” como órgão do personalismo.

“Mounier pode ser qualificado como ‘revolucionário cristão’, oposto a toda despersonalização e inimigo acirrado, tanto do conservadorismo reacionário e falsamente tradicionalista, quanto do pseudo-revolucionarismo fascista. Filosoficamente, Mounier é apresentado como um dos principais e mais ativos representantes do personalismo cristão na França” (Ferrater Mora, Diccionario de filosofía). O órgão dessa filosofia personalista foi “Esprit”, fundada e dirigida por ele.

O personalismo é — segundo Mounier — “uma reafirmação que o homem faz de si mesmo contra a tirania da natureza, representada no plano intelectual pelo materialismo… E a reafirmação que a pessoa faz de sua própria liberdade criativa contra qualquer totalitarismo que queira reduzir o ser humano a uma simples célula no organismo social, ou pretenda identificá-lo exclusivamente com sua função econômica… A primeira condição do personalismo é a descentralização do homem: que ele possa dar-se aos demais e estar à disposição deles. A pessoa existe somente numa relação social, como membro do ‘nós’. Somente como membro de uma comunidade de pessoas o homem tem vocação moral”. E aqui que Mounier alcança o conceito cristão de pessoa como “próximo”, constituída pelo ato, presença e entrega aos demais.

Em seu Manifesto do personalismo (1936) chega a esta definição: “Uma pessoa é um ser espiritual constituído como tal, como modo de subsistência e de independência no ser; que mantém essa subsistência mediante sua adesão a uma hierarquia de valores livremente adotados, assimilados e vividos com uma auto-entrega responsável e uma constante conversão; que unifica assim toda a sua atividade na liberdade e, mais ainda, desenvolve mediante atos criadores sua única vocação própria”. Naturalmente, esse personalismo é o que pede que repensemos nossas estruturas sociais e políticas para tratar de alcançar o desenvolvimento de um socialismo personalizado. Sua cristã está sempre presente para que esse personalismo não seja apanhado nem por uma sociedade burguesa, capitalista e fechada, nem por um marxismo materialista.

Mounier é um exemplo de lutador, de que suas convicções filosóficas tinham de expressar-se na esfera da ação. Aberto como estava ao mundo, “muito provavelmente se simpatizaria com as tentativas de estabelecer um diálogo entre cristãos e marxistas sobre os temas do homem e do humanismo” (F. Copleston, Historia de la filosofia, 9, 299-305).

BIBLIOGRAFIA: Oeuvres completes, 1931-1963, 4 vols.; Obras. Trad. espanhola, 1974 e ss.; Emmanuel Mounier, a los 25 años de su muerte, 1975 (colaboração). (Santidrián)