Marcião (séc. II)
Marcião nasceu em Sínope, no Ponto, atualmente Sinop, na costa do Mar Negro. Pelo ano 140, estabeleceu-se em Roma, inserindo-se na comunidade cristã da cidade. Muito cedo suas doutrinas se chocaram com as dos chefes da Igreja. Em julho de 144 foi excomungado, formando sua própria Igreja para a qual atraiu muitos adeptos.
Marcião parece ter sido dotado de um carisma especial de persuasão. Nenhuma de suas obras chegou até nós, nem sequer as Antíteses, onde expunha sua doutrina. Foi, no entanto, o mais combatido pelos escritores cristãos dos primeiros séculos.
Sua doutrina resume-se nestes pontos: a) O cristianismo é o evangelho do amor, não da lei. Rejeitava, portanto, o Antigo Testamento como contrário ao Evangelho de Jesus, b) Do Novo Testamento somente aceitava 10 cartas de São Paulo, e uma versão revisada do evangelho de Lucas, c) Considerava Cristo um demiurgo cujo corpo era aparente (docetismo), e sua crucifixão também aparente.
O marcionismo aparece mesclado com todas as heresias e seitas dos primeiros séculos, passando a engrossar depois as filas dos maniqueus. Santo Irineu dele nos diz: “Ensinou que o Deus proclamado pela lei e os profetas não é o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque aquele é conhecido, esse desconhecido; um é justo, o outro bom” (Adv. Haer; 1,27,1). O próprio Santo Irineu contava que uma vez o bispo Policarpo de Esmirna encontrou-se com Marcião e, ao ser indagado por este: “Conheces-me?”, Policarpo respondeu: “Sim, conheço em ti o primogênito de Satanás”.
BIBLIOGRAFIA: J. Quasten, Patrologia, I, 256ss.; A. Harnack, Marción. Das Evangelium von fremden Gott (TU 45). Leipzig 1924. [Santidrián]