Bunyan

Bunyan, John (1628-1688)

Bunyan é o escritor religioso inglês mais conhecido e lido. Até o século XIX, o puritano Bunyan podia ser encontrado em todos os lares ingleses junto com a Bíblia. Depois dos anos de crítica do século passado e do presente, Bunyan continua sendo um clássico não apenas da literatura puritana, mas também da cristã.

Nascido em 1628 de uma família de operários, viveu seus primeiros anos marcados pela pobreza, pela leitura da Bíblia e da literatura popular puritana da época: conversas e sermões morais ao ar livre e em casa, livros de orientação espiritual etc. Arraigado, não obstante, “na Igreja nacional” de seus pais, sua alma de camponês ficou cheia de experiência visual do povo e de sua linguagem. A partir de 1644, viu-se obrigado a deixar sua casa para entrar no exército onde permaneceu durante toda a Guerra Civil até 1647. No exército, entrou em contato com chefes e soldados das seitas consideradas então progressistas de esquerda como os “quackers”, os “ranters” etc, que questionavam toda autoridade. Bunyan afirmou-se nas ideias centrais do puritanismo mantidas por Cromwell. Estava convencido de que se consegue a verdade religiosa com uma procura obstinada, confiando na graça livremente concedida ao indivíduo, sem que para isso se precise nenhuma forma de organização exterior e pública. Próximo do ano de 1648 casou-se, tendo quatro filhos com a sua primeira mulher. Recebeu o Batismo por imersão como membro da Igreja separatista de Bedford (1653).

A conversão e posterior convocação de Bunyan ao ministério foi marcada, como ele próprio diz em sua autobiografia, por uma tormenta de tentações que lhe duraram vários anos. Em 1657 foi reconhecido oficialmente como pregador, desdobrado numa intensa atividade tanto na pregação quanto na luta contra os “quackers”. Depois da Restauração de Carlos II, foi acusado de praticar um serviço não em conformidade com a Igreja da Inglaterra, o que lhe valeu doze anos de cárcere (1660-1672) em Bedford. Morreu em Londres, em 1688.

Bunyan deixou três obras fundamentais: 1) sua autobiografia, intitulada Graça abundante (1666), uma análise detalhada e sincera de sua vida interior. Neste já demonstra as qualidades de estilo que manteve nas demais obras. 2) A caminhada do peregrino (The Pilgrim’s Progress, 1678), a história da peregrinação cristã, em meio aos perigos, em direção à cidade celestial. Bunyan descreve as provas, tentações e alegrias do cristão em sua viagem ao céu. E o faz com a particularidade de que sua doutrina se afasta da tradição calvinista e batista para transformar-se num guia espiritual cristão. Não é, neste sentido, um livro sectário: é de todos os cristãos. E prova disso é a aceitação que teve imediatamente, chegando a ser traduzido para mais de cem línguas.

A guerra santa (The Holy War, 1682), com a alegoria da cidade da alma assediada pelo exército do demônio e libertada por Emanuel, mostra-nos em vários níveis todo o processo da redenção do homem, desde a queda do primeiro homem, até o juízo final, passando pela redenção de Cristo.

Estas são suas principais obras, ainda que, apesar de seu intenso e ativo ministério, durante os dez últimos anos de sua vida tenha publicado muitas outras. Bunyan põe toda a ênfase na vida interior, na vida espiritual da alma, onde se dá constantemente a luta e a guerra santa com o pecado. Não lhe interessa nada mais do que a salvação da alma. Seus livros são uma continuação da pregação direta, sobre a qual tanto insiste o puritanismo. Conversão, experiência religiosa individual e pregação são os pontos que caracterizam o puritanismo frente aos ritos e formas da “religião estabelecida”.

BIBLIOGRAFIA: The Works of John Bunyan, 18531862, 3 vols.; O. E. Winslow, John Bunyan, 1961; H. A. Talou, John Bunyan (1628-1688), l’homme et l’oeuvre, 1948. (Santidrián)