Testemunha

PRESENÇA — ESPELHO — TESTEMUNHA

Titus Burckhardt: Ibn Arabi Seth

Segundo a terminologia advaitica, Deus é o Sujeito — ou a Testemunha (sâkshin) — absoluto que não se tornará jamais “objeto” de conhecimento. É n’Ele ou por Ele que toda coisa é percebida, enquanto que permanece sempre sempre o pano de fundo inalcançável. — “Os olhares não O alcançam, mas é Ele que alcança os olhares”, diz o Corão (VI, 103).

Henry Corbin: Corbin Homem Luz

En el extremo oriental del mundo iranio, en Transoxiana, Najmoddîn Kobrâ († 1220) orienta el sufismo de Asia central hacia la práctica de una meditación atenta a los fenómenos de luz, cuyo cromatismo nos desvelará el significado y la preeminencia de la luz verde. Y en este contexto reaparecerá el homólogo de la Naturaleza Perfecta, la figura que Najm Kobrá designa como «testigo en el cielo», «guía personal suprasensible», «sol del misterio», «sol del corazón», «sol del alto conocimiento», «sol del Espíritu».

Michel Henry: Michel Henry Verdade

Como o Cristo poderia fazer crer isto que ele afirma a respeito dele mesmo, a saber que ele saiu de Deus e como tal de condição divina? Quem lhe prestará este testemunho? Aqui surge uma das questões centrais do texto joanico, aquele do testemunho do qual é notável que intervenha em ligação direta com a afirmação pelo Cristo de sua condição de Filho de Deus fazendo dele igual a Deus. Imediatamente depois do Prólogo que identifica o Cristo ao Verbo e o Verbo a Deus, o Evangelho de João invoca o testemunho de João Batista: «E eu vi o Espírito descer do Céu como uma pomba e ele aí permaneceu sobre ele (…) e eu vi meus olhos e atesto que é ele o Filho de Deus» (Jo 1,32-34). Ainda precisaria, por um lado, crer isto que diz João Batista e, por outro lado, esquecer que o Cristo declara não receber de testemunho de sua proveniência divina de nenhum homem: «Para mim não é de um homem que recebo testemunho» (Jo 5,34). Resta portanto que ele preste testemunho a ele mesmo e é precisamente a acusação portada contra ele pelos “judeus”.

A resposta do Cristo é dupla. Embaraçada em seu primeiro tempo, ela parece reconhecer o porte da objeção. «Se sou eu que presto testemunho de mim, meu testemunho é sem valor» (Jo 5,31). Que então poderia ele fazer? Um outro, seu Pai, Deus! «E o Pai que me enviou me prestou ele mesmo testemunho» (Jo 5,37). Somente se é Deus que presta testemunho disto que o Cristo é seu Filho, quem poderá reconhecer este testemunhar ou melhor o conhecer? Para esta finalidade não precisaria conhecer Deus ele mesmo, entender seu próprio testemunho — este testemunho dizendo: «Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: «Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido.» (2Pedro 1,17) ? Que eles não conheçam Deus e não possam portanto reconhecer o testemunho que Deus porta sobre seu Filho, é isto que o Cristo projeta na figura de seus contraditores: «Vós não entendestes jamais sua voz nem vistes sua face, e isto que disse, vós não o tens em morada em vós» (Jo 5,37-38).

Se só aquele que entendeu a própria voz de Deus, e isto que disse, aquele que viu sua face, aquele a quem Deus em morada nele pode portar testemunho sobre o Filho de Deus e dizer: Aquele é o Filho — então só o Cristo é suscetível de o fazer, só ele pode testemunhar disto que ele é. «Se sou eu que me presto testemunho de mim, meu testemunho é sem valor verdadeiro. Se é um outro que presta testemunho, eu sei que o testemunho que ele presta sobre mim tem valor» (Jo 5,31); sublinhado por nós). Se é um outro — Deus — que presta testemunho ao Cristo, é preciso logo conhecer Deus e desta maneira saber que o testemunho tem valor, tem valor para aquele que conhece Deus e entende seu testemunho. «Embora eu me preste testemunho a mim mesmo, meu testemunho tem valor verdadeiro, porque sei de onde vim e onde vou. Mas vós, vós não sabeis nem de onde vens nem onde vais» (Jo 8,14; sublinhado por nós).

Se logo, no final das contas, só o Cristo pode testemunhar sobre ele mesmo, isto não pode ser enquanto homem mas somente enquanto ele sabe de onde veio — em si Arque-nascimento transcendental. É o Arque-Filho transcendental que presta testemunho sobre ele mesmo, sobre sua condição de Arque-Filho, e ele pode o fazer unicamente em função desta condição que é a sua — que é de portar Deus à morada nele. Assim a estrutura do testemunho que o Cristo porta sobre ele mesmo é triplo: como testemunho que provém do Arque-Filho, que porta sobre o Arque-Filho e cuja possibilidade reside na condição de Arque-Filho.

“Testemunho” no contexto joanico quer dizer a mesma coisa que “verdade”. Prestar testemunho da verdade quer dizer que é a Verdade que se presta testemunho a ela mesma. E ela o faz enquanto é a Vida e que a Vida é a auto-revelação, isto que se revela originariamente a si — em linguagem joanica se diria: isto que testemunha de si. No dizer do Cristo sobre ele mesmo, não é, é verdade, a auto-revelação da Vida absoluta que se trata, assim parece, é do testemunho do Cristo sobre ele mesmo — testemunho do Arque-Filho, digamos, sobre sua condição de Arque-Filho, e tornada possível por isto. Esta condição: aquela de ser gerada na auto-geração da Vida absoluta como o Primeiro Vivente na Ipseidade essencial da qual a vida se auto-engendra eternamente — de tal maneira que esta geração do Primeiro Vivente não é diferente da auto-geração da Vida eterna, de sua auto-revelação como revelação de Deus ele mesmo, como sua Verdade, como seu testemunho. «Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade» (Jo 18,37).