Teognostos Ação Contemplação 61-70

Teognostos — Sobre a ação e a contemplação…
61. Inefável e inexprimível é o prazer da alma que em plena certeza (plerophoria) se separa do corpo e se despoja dele como de uma vestimenta. Com efeito, quando ela já obteve o que ela espera, ela se despoja do corpo sem tristeza, ela avança em paz para o Anjo que vem do alto radiante e feliz, ela atravessa o ar com ele sem encontrar obstáculos, sem que lhe perturbem em nada os espíritos do mal, mas ela se eleva em alegria com confiança e gratidão, até que, chegada à meta, ela se prosterna diante do Criador e recebe desde então a sentença que a põe no número de seus semelhantes e de seus iguais em virtude, esperando a ressurreição comum.

62. Tenho contigo uma linguagem estranha, e não te surpreenda se os pressupostos que talvez te tiranize te impeçam de alcançar a apatheia. Mas se, no momento do êxodo, te encontras no abismo da humildade, serás elevado acima das nuvens não menos que o impassível. Pois, se o tesouro dos impassíveis é feito da reunião de todas as virtudes, a pedra preciosa da humildade tem mais valor que todas elas. Não somente ela dá àquele que a possui a expiação junto a Deus, mas ela o faz ir com os eleitos no lugar das bodas de seu Reino.

63. Se recebes de Deus a graça de expiar tuas faltas, glorifica Aquele que esquece e suporta o mal, de tal modo és assegurado de estar acima de teus erros voluntários tanto quanto possível. Pois se expias cada dia tuas faltas até teu êxodo, há em ti, assim parece, inconsciência a pecar facilmente em conhecimento de causa. No entanto se, em lhe lançando a pedra da da boa esperança, rechaças o cão do desespero, e se não cessas de demandar, sem vergonha, obstinadamente, teus numerosos pecados serão perdoados, a fim de que tu também, de tal modo lhe és devedor, tu possas amar muito Aquele que é compreensivo e mais que bom no século a vir.

64. Quando, levado pela graça divina, te encontras em lágrimas diante de Deus na oração, deixa-te cair em terra, os braços em cruz, e, batendo com a cabeça no chão, demanda de daqui te ir para ser liberado da corrupção e liberado das tentações: no entanto, não como tu o queres, mas praz a Deus, e quando lhe compraz, e onde lhe compraz. Já desejas e amas tua partida desta vida, de dela te fostes em lágrimas para o Senhor, no abismo da humildade, a fim de permanecer aí sem te preocupar da ardência do desejo e da oração. No entanto, de momento suportas o tempo que te separa da vida melhor que Deus prevê. Mas faz o juramente de buscar de todas as tuas forças o que leva à meta: que coisa não fazer, que coisa não dizer, que coisa não visar e não empreender, a fim de não privar de Deus.

65. Tu que portas a carne não tentes sondar as coisas inteligíveis como elas são, mesmo se a faculdade intelectual da alma conduza a estas pela pureza. Pois se o incorpóreo retido pelo sopro e o sangue não dissolve a espessura da carne e não se associa as coisas inteligíveis, ele não poderá pensar e compreender estas coisas como deve. Assim portanto, quando estás pronto a sair da matéria como de um outro ventre maternal, como de uma segunda matriz tenebrosa, para ir a estas coisas imateriais e luminosas, delicias-te, glorificando o Benfeitor que nos fez passar pela morte para nos conduzir ao que esperamos. E sejas sempre sóbrio e vigilante, por causa dos demônios ímpios que vão e vêm ao nosso redor, que montam armadilhas às honras que recebemos e que espetam nosso calcanhar, no fim de nossa vida: tremas até tua partida, tanto o tempo a vir é impenetrável, pois tu fostes criado variável e mutável na tua liberdade.