Téofano, o Recluso — Conselhos aos Ascetas
Os monges e os demônios
O arsenal dos demônios se distingue por sua abundância e sua diversidade. A arma que habitualmente usam são os logismoi, os “pensamentos”, as vezes bons em si, mas em geral maus e perversos. O demônio não dá as caras, se esconde detrás dos maus impulsos que estão dentro do homem — e ainda detrás dos bons — e se serve deles insidiosamente para corrompe-lo. Segundo nossos mestres, é esta a única maneira de atacar aos monges novatos. Assim, logo que Antão abandonou o mundo, pretendem faze-lo retroceder recordando-lhe os bens que deixou, o cuidado que deve ter com sua irmã, seus afetos familiares, os prazeres da vida e a dificuldade da virtude. Como se vê, estes pensamentos não são precisamente maus, e por isso resultam mas temíveis. Mas se servem também os demônios de outras tentações realmente brutais, como pensamentos de luxúria, particularmente indicados para vencer aos jovens. São os oito logismoi ou “vícios capitais”, como os chamará Cassiano.
Outras armas importantes nas mãos dos demônios são as visões e alucinações, que sabem usar quando fracassam os logismoi. O demônio aparece sob uma das formas enganosas que mencionamos acima e outras similares. São as tentações mais conhecidas dos anacoretas e têm por fim excitar a luxúria, a gula, o medo, etc. Uma terceira categoria está constituída pelas formas piedosas ou sobrenaturais que as vezes adota o Tentador. Para poder enganar ao solitário, os diabos são capazes inclusive de sustentar conversações espirituais, cantar salmos e citar a Escritura.