Teofano o Recluso — Conselhos aos Ascetas
O discernimento de espíritos
Um dos pontos mais importantes, necessários e, por sua vez difíceis da estratégia da “guerra invisível”, consiste na arte de distinguir entre os bons e os maus espíritos, entre os amigos e os inimigos. Com efeito, segundo ensinam nossos mestres, os demônios (diabolos, ao comprovar a ineficácia da tentações ordinárias e rasteiras para fazer cair o monge, transformam-se em anjos (aggelos de luz (phos), seja apresentando-se como tais em sonhos e visões, seja — o que ocorre com muita freqüência — inspirando-lhe pensamentos que parecem bons, mas que na realidade conduzem à perdição. Entenda-se bem. Não se trata tão somente de um discernimento puramente moral entre o bem (agathon) e o mal (kakon), o entre o que é bom ou mal em uma determinada conjuntura e com relação à determinada pessoa, mas de um discernimento espiritual propriamente dito; de distinguir, entre os pensamentos que nos vêm, os que procedem de Deus e os que, pese as aparências de bondade e santidade, procedem do demônio.
Os monges não inventaram a diakrisis ou discernimento de espíritos cuja história remonta longe. Ao que parece, é uma doutrina de origem judia; a achamos nos escritos de Qumran. Na espiritualidade cristã primitiva gozou do maior apreço. “Rogo que vossa caridade cresça em conhecimento e em toda discrição — escreve São Paulo -, para que saibais discernir melhor”. A aisthesis (sensibilidade) aplica a epignosis (ciência das coisas divinas) às circunstâncias concretas da vida cristã.