Teodoro de Edessa — Discurso sobre a contemplação
Conhecimento natural e sobrenatural
Mas para ter uma maior claridade destas coisas, nos é preciso a princípio, em algumas palavras, discernir a diferença tocando o conhecimento. O que conhecemos aqui em baixo é, com efeito, natural ou sobrenatural, o segundo se revelando a partir do primeiro. Chamamos portanto conhecimento natural o que a alma, usando de seus órgãos e poderes naturais, pode apreender da criação pela investigação e o exame, evidentemente na medida que lhe é possível, apegada à matéria como ela é. É dito com efeito, a respeito da relação dos sentidos, da imaginação e da inteligência, que a energia da inteligência perde sua força em se juntando e em se unindo ao corpo. Lhe é desde então impossível tocar as formas espirituais. Mas para as compreender ela tem necessidade da imaginação que, por natureza, é votada aos simulacros, e da extensão e da espessura materiais. Para que a inteligência que está na carna possa as apreender, lhe é preciso portanto formas que lhe correspondam. A inteligência assim sendo feita, chamamos natural o conhecimento que ela adquire por sua própria démarche natural. Mas o conhecimento sobrenatural é aquele que, nascido da inteligência, escapa a sua démarche e a seu poder, quando em verdade as concepções desta inteligência aliada à carne superam sua própria medida. É então à inteligência separada do corpo que cabe conhecer. E este conhecimento vem de Deus somente, quando uma inteligência se encontra inteiramente purificada de todo pendor natural e porta nela o amor divino. Ora não é somente o conhecimento que é assim partilhado, mas também a virtude. Outra é, com efeito, a virtude que não supera a natureza, e que se chama justamente natural. E outra é a virtude animada pela energia da única beleza primeira, além de todo poder e de toda condição naturais, e que se deve propriamente chamar sobrenatural.
Teodoro de Edessa Conhecimento
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