TAULER — O FUNDAMENTO DA ALMA
O fundamento da alma I
A alma suporta dentro de si uma centelha, um fundamento, cuja sede Deus todo-poderoso não pode satisfazer, a não ser dando-se a si mesmo. Se Ele tivesse que dar à alma o espírito das forma de todas as coisas que criou no céu e na terra, então isto não seria suficiente e não poderia satisfazer sua sede, que a alma possui por sua natureza. Aqueles perversos então destroem este fundamento dentro deles mesmos, sufocam esta sede e abrem suas bocas como se acreditassem que o vento poderia satisfazê-los. A assim não tem sabor pelas coisas de Deus.
Sermão 36
O fundamento da alma II
St. Agostinho diz deste fundamento que a alma do homem possui um abismo oculto que nada tem a ver com o tempo e este mundo e que se eleva bem acima de nossa parte que dá vida e movimento para nosso corpo. O deleite que falamos desce neste nobre e bendito abismo, neste domínio oculto, que é seu lugar de descanso por toda a eternidade. Lá nos tornamos tão quietos, tão verdadeiros para nós mesmos, tão destacados e tão interiorizados. Lá somos renovados em pureza e renúncia, liberados de todas as coisas, pois Deus Ele mesmo entra este domínio celeste, onde Ele age, habita e governa. Esta condição não pode ser comparada com qualquer outra, pois nisto atingimos uma verdadeira vida divina. Nosso espírito funde-se integramente com Deus, queima em todas as coisas e é levado ao fogo do amor que é Deus Ele mesmo de acordo com sua essência e sua natureza.
Sermão 24
O fundamento da alma III
No abismo o espírito do homem se perde de tal modo que não está mais consciente de si mesmo: nenhuma de suas palavras ou caminhos, suas impressões ou sentimentos, seu conhecimento ou amor, pois tudo é puro Deus indivisível, um abismo inexprimível, uma essência, um espírito. Deus dá através da graça ao espírito humano aquilo que ele é por natureza, e une seu próprio ser, sem nome, maneira ou forma, com o espírito humano. E Deus causará todos os trabalhos desta alma, conhecendo, amando, louvando e desfrutando-os, como a alma o permite fazer em um modo de sofrimento divino. Podemos falar muito pouco disto e como acontece assim como podemos falar de e compreender o ser divino ele mesmo, pois isto é uma ordem de conhecimento muito alto para o intelecto criado, do homem ou anjo, mesmo quando iluminado pela graça de Deus.
Sermão 26
O fundamento da alma e o Cristo
Devemos nos esforçar ainda mais e alcançar mais alto quanto mais profundo mergulhamos no abismo desconhecido e inominável. Aqui nos perdemos completamente, somos desprovidos de todas as imagens, todos os modos de devoção, todas as formas e vamos além de todos nossos poderes. E assim finalmente nada há restante mas o fundamento, que existe essencialmente dentro de si mesmo, ser uno, vida una, transcendência una. Podemos dizer deste estado que estamos liberados de todo conhecimento, toda afecção, toda ação, até mesmo do espírito. Isto não é uma aberração da natureza mas acontece por conta da transformação que o espírito de Deus opera no espírito criado em um ato livre de bondade, correspondendo ao abandono insondável do espírito criado e seu mais profundo desapego de todas as coisas. De tais pessoas podemos dizer que Deus conhece a si mesmo nelas, ama a si mesmo, deleita-se em si mesmo nelas, pois é vida una, ser uno, energia una. Possa alguém jamais desejar trilhar este caminho com uma liberdade falsa e em uma luz falsa, então isso seria o caminho mais perigoso de conduzirem a si mesmos.
O caminho que nos leva a este ponto deve dirigir através da vida sagrada e sofredora de nosso Senhor Jesus Cristo, pois ele é o caminho, e este é o caminho que devemos ir. Ele é a verdade que deve iluminar este caminho, e ele é a vida que devemos alcançar. Ele é a porta, e quem quer que queria entrar através de outra porta é um ladrão. Devemos entrar através desta querida porta pela disciplina de nossa natureza, e pela prática das virtudes, em humildade, doçura e paciência. Saiba em verdade: aquele que não escolhem este caminho perdem seu caminho. Deus vai à frente dessas pessoas que não tomam este caminho, e anda mesmo no meio delas; ainda assim elas estão cegas.
Sermão 64