TANQUEREY — COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA
VIDE: METANOIA
Se temos a infelicidade de perder a vida da graça pelo pecado mortal, o Sacramento da Penitência lava as nossas faltas no Sangue de Jesus Cristo, cuja virtude nos é aplicada pela absolvição, contanto que estejamos sinceramente contritos e decididos a romper com o pecado.
Necessidade e noção da Penitência
705. A penitência é depois da oração, o meio mais eficaz de purificar a alma de suas faltas passadas e até mesmo de a premunir contra as faltas do futuro.
1. E assim, quando N. S. Jesus Cristo quer começar o seu ministério público, dispõe que o seu precursor entre a pregar a necessidade da penitência: «Fazei penitência, porque está próximo o reino dos céus: paenitentiam agite, appropinquavit enim regnum caelorum» ( Mat 3,2 ). Declara que Ele próprio veio para chamar os pecadores à penitência: «Non veni vocare iustos, sed peccatores ad paenitentiam» ( Lc 5,32 ). Tão necessária é esta virtude que, se não fizermos penitência, pereceremos: «si paenitentiam non egeritis, omnes similiter peribitis» ( Lc 13,5 ). Os Apóstolos compreenderam tão bem esta doutrina que, desde a sua primeira pregação, insistem sobre a necessidade da penitência, como condição preparatória do batismo: «Paenitentiam agite, et baptizetur unusquisque vestrum» (At 2,38 ).
É que, efetivamente, para o pecador, a penitência é um ato de justiça; já que ofendeu a Deus e violou os seus direitos, tem obrigação de reparar esse ultraje. Ora, pela penitência é que ele pode reparar.
706. 2. A penitência define-se: uma virtude sobrenatural, anexa à justiça, que inclina o pecador a detestar o seu pecado, por ser uma ofensa cometida contra Deus, e a tomar a firme resolução de o evitar para o futuro e de o reparar.
Compreende, pois quatro atos principais, cuja origem e conexão é fácil descobrir. 1) À luz da razão e da fé, vemos que o pecado é um mal, o maior de todos os males, o mal que só é mal, porque ultraja a Deus e nos priva dos bens mais preciosos; e este mal nós o odiamos de todo o coração «iniquitatem odio habui». 2) Verificando, por outro lado, que esse mal existe em nós, porque pecamos, e que, ainda quando perdoado, sempre deixa alguns vestígios, concebemos dele uma dor viva, dor que nos tortura e tritura a alma, uma sincera contrição, uma profunda humilhação. 3) Para evitarmos no futuro esse mal odioso, tomamos a firme resolução e o bom propósito de nunca mais o cometer, fugindo com cuidado das ocupações que a ele nos poderiam levar, e fortificando a vontade contra as seduções dos prazeres perigosos. 4) Enfim, compreendendo que o pecado é uma injustiça, determinamo-nos a repará-lo, a expiá-lo por meio de sentimentos e obras de penitência.