Symeon Gouillard

Simeão Novo Teólogo — Seleção de Jean Gouillard
Da oração (euche) constante e de seus efeitos
118. Assim como os mandamentos gerais compreendem os mandamentos particulares, as virtudes gerais incluem as virtudes particulares: quem vende os seus bens e os distribui aos pobres, ficando pobre de uma só vez, cumpre todos os mandamentos particulares ao mesmo tempo. Não tem nada mais para dar a quem pede e nada para recusar a quem lhe pedir emprestado. De forma idêntica, aquele que ora sem cessar, envolve tudo em sua oração (euche). Já não é obrigado a louvar o Senhor sete vezes por dia, e à noite, de manhã e ao meio-dia, pois cumpriu desde já a oração (euche) e a salmodia que os cânones nos impõem em tempos e horas fixas. Do mesmo modo, quem possui em si conscientemente “Aquele que dá aos homens o conhecimento” ( Sl 94,10 ), colheu todo o fruto conseguido através da leitura, e não tem mais o que fazer com a leitura dos livros. De modo semelhante também, o homem que entrou na familiaridade daquele que inspirou os livros santos, é per Ele iniciado nos segredos inefáveis dos mistérios escondidos. Ele mesmo se torna para os outros um livro inspirado, que carrega, inscritos pelo próprio dedo de Deus, os mistérios antigos e novos, pois cumpriu tudo e descansa em Deus, a Perfeição primeira, de todos os seus trabalhos e obras.

136. Esforçai-vos ao máximo no ofício; em vossa cela, perseverai na oração (euche) com compunção, atenção, lágrimas contínuas, e não imagineis que fiáveis ultrapassado o limite do cansaço e que podeis cortar um pouco a vossa oração (euche) por causa do cansaço físico. Eu vos digo: pode-se ficar extenuado, no ofício, tanto quanto se quiser: privando-se da oração (euche), sofre-se um grave prejuízo.

150. Se, durante a vossa oração (euche), um pavor, um estrondo, um raio de luz, ou outro fenômeno se produzir, não vos perturbeis; perseverai na oração (euche) ainda com maior tenacidade. Essa perturbação, esse pavor, esse estupor, vêm dos demônios, que vos querem afrouxar e fazer renunciar à oração (euche), para em seguida apossarem-se de vós, quando esse afrouxamento se tiver tornado hábito. Se, enquanto fazeis vossa oração (euche), brilha uma outra luz que não consigo exprimir, a alma se enche de alegria, do desejo do melhor, jorra um borbotão de lágrimas de compunção, sabereis que é uma visita e uma consolação ( socorro ) de Deus… ( P.G. t. 120, cc. 665, 673, 684 ).