Temos de lembrar que todo o nosso mundo material é apenas uma parte de um sistema de mundos maior; tudo o que acontece e se oferece à nossa apreensão também está ligado ao que está acima e abaixo do nosso mundo.
O que equivale a dizer que as essências não físicas de outros mundos são projetadas em nosso mundo material, ajustando-se aos seus limites e ao seu tempo e espaço físico. Então, apesar dos limites do nosso mundo material, os mundos superiores estão presentes nele, e podem até ser diferenciados, de uma forma ou de outra. De fato, todo detalhe do mundo material é um tipo de projeção de uma realidade não física que escolheu revelar-se fisicamente, desse modo particular.
Nessa visão do mundo, tem de haver uma dupla distorção. Primeiro, a distorção que resulta da projeção de algo não físico sobre uma realidade física: como em essência esses dois são tão diferentes, é impossível que alguma coisa no nosso mundo seja uma réplica completa de uma realidade não física. Depois, está a distorção que resulta do fato de que nosso mundo já não está no seu estágio inicial de pureza e saúde primitivas. As diversas criaturas deste mundo fazem o que têm de fazer, o melhor que podem, por conseguinte efetuando certas mudanças na estrutura do mundo — as mudanças e distorções mais ambiciosas, logicamente, sendo aquelas que resultam das ações do homem.
Em virtude deste livre-arbítrio e da capacidade de impor sua vontade sobre outras criaturas no mundo material, o homem é — até um certo grau — independente das forças dos outros mundos, superiores e inferiores. Consequentemente, os pensamentos e as ações do homem, especialmente seus pecados e seus erros, podem perturbar as formas mais simples da natureza e o mundo pode até afetar a realidade de outros mundos.
Portanto, este mundo já não é uma réplica ou uma projeção verdadeira dos mundos superiores. Somente no seu estado original, o do Jardim do Éden, ele estava estruturado como uma duplicação mais ou menos perfeita do mundo físico e dos mundos espirituais. Desde então todos os mundos, e o nosso mundo em particular, tornaram-se cada vez mais distorcidos, e grande parte da essência original mudou de várias maneiras. Somente aquelas pessoas que conhecem o segredo da existência no universo podem saber a medida na qual a duplicação entre os mundos ainda existe, e podem perceber a analogia essencial entre o mundo físico e os mundos espirituais. Podem descobrir os caminhos ocultos na realidade concreta do mundo que leva aos mundos superiores, e podem decifrar em tudo o que é apreendido como real, os símbolos e modelos de um mundo superior, guiando-nos, passo a passo, até o próprio pináculo e fonte de todos os níveis.
E do mesmo modo que todos os mundos se refletem, em certo grau, no mundo físico onde vivemos, assim também, em medida ainda maior — de fato, em princípio até as alturas máximas da revelação divina — a imagem interior dos mundos é refletida na imagem do homem. Com certeza, todas as criaturas do mundo, as grandes e as pequenas, constituem cópias e símbolos de aspectos nas existências dos mundos superiores, mas no homem também estão refletidas as relações entre diversos aspectos da existência. Logo, o homem é, por um lado, uma parte da criação geral do mundo, e por outro lado, como possuidor do atributo especial do livre-arbítrio, ele é a única expressão concreta da realidade divina nos mundos. Porque todos os outros mundos são ordenados de acordo com as leis fixas de causa e efeito, sejam de natureza física ou não física. Somente o homem pode mudar voluntariamente a estrutura em certa medida, e ativar os “círculos viciosos” de várias maneiras.
Portanto, somente o homem é a expressão da vontade criativa no mundo. Em virtude da faísca que é a sua alma, o homem manifesta a divina abundância que existe em todos os mundos, até suas alturas mais sublimes. De modo que toda imagem do homem está, em certo sentido, na imagem de Deus. O que equivale a dizer que o homem é tanto a projeção da divina abundância criativa na realidade física, quanto a forma divina revelada aos mundos superiores, como ela aparece em nosso mundo.
Sem dúvida, a representação divina no homem está longe de ser completa; nem o corpo nem a alma do homem expressam fielmente a essência suprema. E no entanto o homem, em todos os seus aspectos espirituais e físicos, deve ser visto como uma ordem simbólica orientada para a ordem da soberania no mundo, a ordem das dez Sefirot do Mundo da Emanação.