Mundo da Criação [RSTP]

MUNDOS — Mundo da Criação

Adin Steinsaltz: A ROSA DE TREZE PÉTALAS. Maayanot, 1992

Imediatamente acima do mundo da formação está o mundo denominado o “mundo da criação” que, como os outros, inclui muitos campos de ação, níveis e mansões diferentes. E exatamente como o mundo da formação está composto de uma multidão de seres espirituais cuja essência é puro sentimento e emoção, o mundo da criação é um mundo de mente pura. Esta qualidade mental do mundo da criação não é uma essência meramente intelectual, mas se expressa como o poder e a capacidade de captar coisas com uma compreensão autêntica, interior; é, em outras palavras, a mente como criador, assim como aquela que registra e absorve o conhecimento.

Um dos outros nomes para o mundo da criação é “mundo do trono”, extraído da Visão de Ezequiel do divino “trono da glória”. Não obstante, no todo, esse aspecto do Divino que é revelado aos profetas é o mundo que está diretamente acima do mundo da criação, conhecido como o “Mundo da Emanação“. Esta é a fonte da qual D-us se faz conhecer por alguns poucos, enquanto que o mundo da criação é Seu assento ou Seu trono, do qual, como está escrito, “a terra é o Seu escabelo”. Outrossim, o Trono ou Carruagem Divina é meio através do qual a divina abundância desce às criaturas e coisas do nosso mundo, e faz contacto com os muitos sistemas complexos de todos os mundos. De modo que o mundo da criação também é o cruzamento da existência. É o ponto focal no qual a abundância que sobe dos mundos inferiores e a abundância que desce dos mundos superiores se encontram e entram numa espécie de relacionamento mútuo. Portanto, uma compreensão do “caminho da Carruagem” — ou seja, uma compreensão da maneira como funciona o Divino Trono da Glória — é o maior segredo da doutrina esotérica. E, além deste segredo, um ser humano — até um homem de visão ou um que tenha uma revelação —, pode receber apenas impressões incertas dessas essências, pois elas estão estruturalmente além da compreensão humana. Porque o mundo da criação é um mundo que o homem foi capaz de atingir somente no ponto mais alto do seu desenvolvimento, demonstrando dessa forma que parte de sua alma pertence ao campo de ação especial. Assim é para que alguém entenda o segredo da Carruagem, ele tem de estar parado no exato ponto focal da intersecção de mundos diferentes. Nesta intersecção, ele recebe conhecimento de toda a existência e transformação, passada, presente e futura, e está consciente do Divino como causa primordial e acionadora de todas as forças que agem, vindo de todas as direções. Obviamente, é impossível para o homem tal como ele é conseguir essa compreensão completamente; não obstante, até mesmo um discernimento parcial da carruagem lhe proporciona um sentido do que está acontecendo em todos os mundos.

No mundo da criação, também, há mansões — ou seja, lugares no sentido metafísico, esferas do ser dentro das quais há um certo ritmo medido do tempo, de uma forma ou de outra, com relação entre passado, presente e futuro, entre causa e efeito, e onde há almas e criaturas que pertencem especificamente a este mundo. Essas criaturas do mundo da criação, as almas que vivem nele, são os anjos superiores, chamados “serafins”. Como os anjos do mundo da formação, os serafins são essências abstratas singulares, não passíveis de mudança. Mas, enquanto os anjos do mundo da formação são incorporações de emoção pura, aqueles do mundo da criação são essências de inteligência pura. Os serafins são anjos que manifestam os níveis superiores da mente. Também refletem as diferenças entre os diversos planos da consciência e compreensão, um aspecto particular da mente. Por último, cada uma dessas criaturas do mundo da criação também serve de anjo-mensageiro, recebendo a abundância dos seres angélicos e das almas do mundo da formação, e elevando-as até um nível mais alto, no mundo da criação e além, até alturas infinitas.

A ascendência do mundo da criação sobre o Mundo da Formação não é apenas uma questão da superioridade da mente e da consciência sobre as emoções; também radica no fato do mundo da criação em si ser um mundo “superior”: no sentido que os diversos mundos caracterizam-se como mais altos ou mais baixos em relação ao grau de sua transparência à luz divina, que é sua própria luz e substância. Ao descer no sistema dos mundos, a materialidade torna-se ainda maior: em outras palavras, os seres dos mundos mais baixos sentem sua existência independente com maior intensidade que os seres dos mais altos; estão mais conscientes de serem seres individuais separados. E esta consciência de sua individualidade bloqueia a abundância divina e ao mesmo tempo obscurece a verdadeira essência imutável que está latente sob a personalidade individual. Resumindo, quanto mais baixo o mundo, mais ele está permeado pelo sentido do “Eu“, e consequentemente, mais ele está sujeito ao obscurecimento da essência divina. Não obstante, pode-se dizer que todos os mundos — e de fato, quaisquer campos de ação do ser separados — existem somente em virtude do fato de que D-us se esconde. Porque quando a divina abundância é manifestada em sua plenitude total, não há espaço para a existência de nada mais. Um mundo pode existir somente como resultado do ocultamente do seu Criador. À medida que se desce dos mundos superiores para os inferiores, a cada novo nível de descida, a separação, a independência do mundo dele torna-se mais acentuada e enfática, enquanto que a abundância divina se torna mais oculta. Logo, as criaturas do Mundo da Ação podem atingir (como de fato os homens o fazem) uma condição na qual estão não somente inconscientes da divina abundância que dá a vida, mas onde também podem chegar a repudiar sua existência totalmente. Por outro lado, à medida que se ascende a escada do ser, os mundos tornam-se cada vez mais claros e transparentes à divina abundância.

Se no nosso mundo precisamos de uma introspecção profética ou abertura da fé para distinguir a divina abundância em toda a sua variedade de formas e em todos os seus níveis, nos mundos superiores tudo é mais lúcido e oferece menos resistência à abundância divina. De modo que estando acima dos outros dois mundos — da ação e da formação — o mundo da criação também é mais translucidamente transparente, suas criaturas têm um conhecimento mais pleno da maneira pela qual seu mundo está sendo criado constantemente como uma ou outra manifestação da abundância divina. Ao mesmo tempo, como o mundo da criação ainda é um mundo separado, suas criaturas e almas têm suas próprias naturezas individuais. De fato, podem perceber a luz divina, e podem aceitar totalmente seu domínio em tudo. Não obstante, ao sentirem-se separadas da sua luz, reconhecem sua existência independente. O que equivale a dizer que até o serafim anseia poderosamente aproximar-se do Divino, pois apesar de encontrar-se tão por cima do que qualquer pessoa possa captar, e apesar de ser a incorporação da compreensão e da inteligência superior, está consciente de ser uma realidade ainda desconectada do Divino.