CABALA
Adin Steinsaltz: A ROSA DE TREZE PÉTALAS. Maayanot, 1992.
O mundo onde vivemos habitualmente, com tudo o que ele engloba, é chamado de “mundo da ação”; e ele inclui o mundo da nossa apreensão sensual e não sensual. Mas este mundo da ação em si mesmo não é tudo da mesma essência e da mesma qualidade. A parte inferior do mundo da ação é o que se conhece como o “mundo da natureza física”, e dos processos mais ou menos mecânicos — ou seja, o mundo onde a lei natural prevalece; acima deste mundo de natureza física há outra parte do mesmo mundo, que podemos chamar de “mundo da ação espiritual”. O que é comum a esses dois campos de ação do mundo da ação é o homem, a criatura humana situada de tal modo entre eles, que participa de ambos. Formando parte do sistema físico do universo, o homem está subordinado às leis físicas, químicas e biológicas da natureza, enquanto que do ponto de vista de sua consciência, mesmo quando esta consciência está totalmente ocupada com assuntos de uma ordem inferior, o homem pertence ao mundo espiritual, o mundo das ideias. Com certeza, essas ideias do mundo da ação estão quase completamente ligadas ao mundo material, crescendo dele e avançando, porém nunca saindo dele realmente; e isto é tão verdadeiro para as alturas da filosofia de maior alcance e mais abrangente, quanto para os processos do pensamento da pessoa ignorante, o selvagem primitivo, ou a criança.
Portanto, todo aspecto da existência humana é composto de matéria e espírito. E ao mesmo tempo, no mundo da ação, o espiritual está subordinado ao material, de acordo com o fato que as leis da natureza determinam, a face e forma de todas as coisas, e servem como pontos focais para todos os processos. Neste mundo, o espírito pode aparecer e desempenhar a sua função somente sobre a base sólida dos funcionamentos do que chamamos as “forças da natureza”. Em outras palavras, não importando o quanto ele possa ser abstrato ou estar divorciado da assim chamada realidade, o pensamento continua pertencendo ao mundo da ação.
No entanto, o mundo da ação é apenas um mundo num sistema geral de quatro dimensões fundamentais do ser, ou quatro mundos diferentes, cada um com seu próprio cosmos de essências variadas. Esses quatro mundos foram chamados, na ordem do superior ao inferior, “emanação”, “criação”, “formação” e “ação”. Assim, o mundo diretamente acima de nós é o Mundo da Formação. Para entender a diferença, primeiro precisamos compreender alguns fatores comuns aos quatro mundos. Esses fatores eram conhecidos tradicionalmente como “mundo”, “ano” e “alma”; hoje em dia, os chamaríamos “espaço”, “tempo” e “si mesmo” (experiência do próprio ser). Cada mundo é diferenciado dos outros pela maneira como esses três fatores de manifestam nele. Por exemplo, no nosso mundo, o lugar físico é um elemento externo necessário para a existência das coisas; é o fundo contra o qual todos os objetos se deslocam e todas as criaturas funcionam. Nos mundos superiores, e também no mundo da ação espiritual, o que é análogo ao espaço no mundo da ação física é chamado de “mansão”. É a estrutura dentro da qual diversas formas e seres convergem e se relacionam. Talvez possamos compará-lo com esses sistemas completos — conhecidos na matemática como “grupos” ou “campos” — em cada um dos quais todas as partes unitárias estão relacionadas de uma maneira definida com as outras partes, e com o todo. Esses sistemas podem estar habitados ou totalmente cheios, ou podem estar relativamente espalhados ou vazios. Seja qual for o caso, tal sistema de existências relacionadas constitui um “lugar” no abstrato — uma “mansão” nos mundos superiores.
O tempo também tem um valor diferente nos outros mundos. No campo de ação da nossa experiência, o tempo é medido pelo movimento de objetos físicos no espaço. O “ano”, como ele é chamado abstratamente, constitui o exato processo da mudança; é a passagem de uma coisa para outra, de forma para forma, e também inclui dentro de si o conceito da causalidade, como o que mantém toda a transição de forma para forma, dentro dos limites da lei. De fato, ao ascender na ordem dos mundos, este sistema de tempo torna-se cada vez mais abstrato e cada vez menos representativo de algo que conhecemos como tempo, no mundo físico; torna-se não mais do que a essência mais pura da mudança, ou até mesmo a possibilidade da mudança potencial.
Por último, o que chamamos de “alma” é, na dimensão física, a totalidade das criaturas vivas funcionando nas dimensões do tempo e do espaço deste mundo. Apesar de serem uma parte essencial deste mundo, elas são diferenciadas do fundo geral pela sua autoconsciência e conhecimento deste mundo. De modo similar, no mundo superior, as almas são essências conscientes de si mesmas, agindo dentro da estrutura da mansão e do ano do seu mundo.