Sermão Purificação Maria

Antônio de Pádua — Sermão para a Purificação de Maria
Contribuição e tradução de Antonio Carneiro

Como um ramo da árvore para incenso no verão

A palavra incenso vem do grego “Theos”1 que significa “Deus”, em honra de quem é queimado.

A árvore para incenso chama-se « líbano »2. “Como o líbano não entalhado, diz a Virgem no Sirácida3, preenchi de perfume minha habitação ” (cf. Si 24, 12). A árvore do incenso é uma planta da Arábia, muito alta, de onde se extrai uma goma-resina aromática. O incenso é colhido duas vezes por ano, no outono e na primavera.

Esta árvore é a figura de Maria. Ela não teve nenhuma incisão por qualquer ferro de concupiscência. Ela perfuma as virtudes e o amor da alma daqueles onde ela habita. Ela emana o incenso perfumado, a humanidade de Jesus Cristo, cujo perfume preenche o mundo inteiro.

– A dupla oferenda do Cristo

A dupla colheita de incenso representa a dupla oferenda do Cristo. Na primeira, a Mãe lhe ofereceu no templo segundo a prescrição da lei de Moisés ; na segunda o Cristo se oferece ele mesmo em sacrifício à Deus o Pai, para a reconciliação do gênero humano.

Na sua pobreza, Maria ofereceu seu Filho e a oferenda dos pobres, um par de e duas jovens pombas. Eis aqui o que prescrevia a lei: : « Se uma mulher está grávida e dá a luz a um menino, ela estará impura durante sete dias. Quando acabar o período de sua purificação, após quarenta dias, levará um cordeiro à entrada da Tenda. Se não o achar ou se não teve a possibilidade de oferecer um cordeiro, oferecerá duas rolinhas ou duas jovens pombas » (cf. Lv 12, 2.6.8). A oferenda de Maria foi então a oferenda dos pobres que não tem possibilidade de procurar um cordeiro.Tudo isso manifesta a humildade e a pobreza do Senhor e de sua Mãe. É esta oferenda a que fazem ao Senhor aqueles que são pobres.

« Como fogo resplandecente e incenso que queima no fogo ».

Jesus Cristo resplandeceu como um fogo diante dos pastores durante seu Nascimento, diante dos magos durante sua Manifestação, diante Simeão e Ana durante a Purificação de sua Mãe. Na sua Paixão por outro lado, queimou como incenso no fogo e seu perfume preencheu os céus, a terra e os infernos. Os anjos do céu se jubilaram da redenção do gênero humano; sobre a terra os homens que estavam mortos forma ressuscitados; nos infernos, os prisioneiros foram liberados.

Nós te rogamos , oh Nossa Senhora, Mãe escolhida por Deus, purificai-nos o sangue de nossos pecados a fim de que possamos alcançar a glória da Jerusalém celeste.
Que nos conceda aquele que hoje tu ofertou no templo :
A Ele seja dado toda Honra e toda Glória pelos Séculos dos Séculos. Amem !

NOTAS


  1. Aqui existe uma dificuldade, segundo Xavier Accart em seu artigo “Symbolique de l’encens” publicado em 1 de julho de 2008 — Prier n°303, escreveu no quarto parágrafo o seguinte “L’étymologie latine du terme français nous révèle qu’il est d’abord «ce qui est brûlé» (incensum), alors que l’étymologie grecque (thuos) de son nom latin (thus) le met en relation, avec les notions de parfum et de «victime». ” , cuja tradução livre seria “A etimologia latina do termo francês nos revela que de início era ” o que é queimado” (“incensum”), enquanto que a etimologia grega (“thuos”) de seu nome latino (“thus”) o coloca em relação, com as noções de perfume e de “vítima” {no sentido de oferenda, sacrificado/sacrifício/} . Neste caso é possível que o santo doutor tenho pedido uma licença poética indo do latino “thus” que em grego era “thuos” para atingir o citado “theos”.  

  2. Não foi possível localizar nenhuma árvore com este nome em francês possivelmente o santo doutor estaria se referindo ao “Cedrus libani” conhecido em francês como “Cèdre du Liban” 

  3. Vide Sirácida () e como está no texto em francês ver “”
    A citação em francês refere-se à 24,15 e não 14, onde tampouco faz referencia ao cedro mas sim ao cinamomo (Melia azedarach) e ao (Acanthus) conforme abaixo:
    “24,15 — Comme le cinnamome et l’acanthe j’ai donné du parfum, comme une myrrhe de choix j’ai embaumé, comme le galbanum, l’onyx, le labdanum, comme la vapeur d’encens dans la Tente.”
    Esta passagem está bastante cifrada pois é rica em simbologia:
    “” em Mitologia era uma ninfa. Apolo (deus do sol) quis levá-la e ela o esbofeteou. Para se vingar, e a metamorfoseou em uma planta espinhosa que ama o sol, e que tem seu nome. Em etimologia o nome deriva do grego ” ακανοϛ “, designa a cabeça espinhosa de algumas plantas, e ” ανθοϛ “, a flor.
    Na linguagem das flores, ” acanthe ” significa ” Amor da arte. Nada poderá nos separar.”
    Em português está como cedro do Líbano conforme a Bíblia de Jerusalém, porém está em 24, 13: 24, 13. Cresci como o cedro do Líbano, como o cipreste no monte Hermon.