Sentenças de Sexto [KDNH]

BIBLIOTECA DE NAG HAMMADI
Excertos de do livro de R. Kuntzmann e J.-D. Dubois, trad. de Álvaro Cunha
As Sentenças de Sexto (XII,1)
Tradução de P.-H. Poirier, in BCNH, n.° 11, 1983.

Estas sentenças tiveram larga difusão no cristianismo antigo, já sendo conhecidas antes da descoberta de Nag Hammadi. Esta versão copta constitui uma coleção de ditos sapienciais, nascidos nos círculos populares cristãos, com insistência particular na prática das virtudes, pois a sabedoria e a gnose são incompatíveis com as paixões corporais e os apetites carnais. Eis algumas sentenças onde essas características se apresentam mais claramente:

345 É preferível morrer (a obscurecer a alma) por causa da intemperança do ventre.

346 Diz em (teu) coração que a veste de tua alma (é) o corpo: portanto, mantém-no puro, sem pecado.

347 As coisas que a alma tiver feito quando estava no corpo, ela (as terá como testemunhas quando subir a julgamento).

348 Os demônios impuros reclamam a alma que esteja maculada.

349 (Os) demônios maus não poderão reter no caminho de Deus a alma fiel (e) boa.

Apesar da péssima conservação do texto, uma sequência de sentenças exalta a sabedoria, que aproxima de Deus e constitui norma de vida:

167 A sabedoria guia (a alma) até o lugar (de Deus).

168 (Não existe) nenhum parente da (verdade se) não a sabedoria.

169 Não é possível a uma natureza (fiel ser amiga da) mentira.

170 Uma natureza temerosa (que não é) livre não pode rá ter a ver com a fé.

171 Se és (fiel) não (consideres) mais o que é conveniente dizer do que (o fato) de ouvir.

172 Um homem (que ama o pra)zer é inútil (para qualquer coisa).

173 Se (tu és) sem pecado, (fala) em toda coisa (que é) de Deus.

174 Os pecados daqueles que são ignorantes (são) a vergonha daqueles que (os ensinaram).

(…)

307 (É) (o homem sábio) (que) (faz com que Deus me mantenha) perto dos homens.

308 E (Deus) estima mais o sábio do que suas (obras).

309 Depois de Deus, não há ninguém que seja tão livre quanto o homem sábio.

310 (As coisas que) Deus possui também (pertencem) ao sábio.

311 O homem sábio participa da realeza de Deus.

Outra série de sentenças dirige-se àqueles que têm a responsabilidade de falar de Deus:

350 Não dês a palavra de Deus a qualquer.

351 (Para) aqueles (que) são corrompidos pela (glória), não é prudente ouvir (falar) de Deus.

352 (Dizer a verdade) sobre Deus não é pequeno (perigo) para nós.

353 Não (digas nada a respeito) de Deus antes (de tê-lo) sabido junto a Deus.

354 (Não) fales a ímpio (a respeito de) Deus.

356 Se tu (não) te (purificaste) das obras corrompidas, (não) fales a respeito de Deus.

357 (Uma palavra) verdadeira sobre Deus é uma palavra de Deus.

358 Se teu coração está persuadido de que tens sido amigo de Deus, então fala de Deus àqueles que quiseres.

359 Que tuas obras piedosas precedam toda palavra a respeito de Deus.

Para terminar, deve-se notar o enfoque, positivo que essas sentenças apresentam em relação a Deus como fonte de vida de sabedoria:

390 Aquilo que fazes bem, diz em teu coração- “É Deus quem faz”. ‘

391 Não há nenhum homem inclinado para a terra e Dara as mesas que seja sábio.

392 O filósofo é corpo exterior: não é a ele que convém honrar, mas (ao) filósofo segundo o homem interior.

393 Guarda-te de mentir: existe aquele que engana e existe aquele que é enganado.

394 Saiba quem é Deus, mas saiba também quem é aquele que pensa em teu interior.

395 Um homem bom: essa é a boa obra de Deus.