Segundo Relato: Gn 3,24

Gen 3,24 E ele expulsou o Homem. E ele o colocou no oriente do jardim do Éden os querubins e a chama da espada flamejante para guardar o caminho da Árvore da Vida.

Os sujeitos dos dois verbos não formalmente precisados mas a identidade do primeiro «ele», sujeito de «expulsou», parece evidente, do fato de seu complemento de objeto. Além do mais que é dito no Gen 3,23 – versículo precedente que «Deus o remeteu». Aqui não é claro que este «ele» que «expulsou o Homem» é Deus também? Mas porque então esta repetição? Para insistir sobre a escorraça de Deus diante da estupidez do Homem, do qual teria subitamente desejo de se desembaraçar rapidamente? Mas segundo o texto já está feito. E o que vai doravante separar Deus de sua Criatura mais eficazmente que a geografia, é o elemento do «sagrado» que este versículo introduz. O «sagrado» representado pelos querubins — de modo algum anjos barrocos mas espécies de esfinges, de monstros de quatro faces e com as asas consteladas de olhos, do qual fala Ezequiel em sua visão (Ez cap. 1 e10) — postos a oriente do jardim, com a espada flamejante, para «guardar o caminho da Árvore da Vida». Postos por quem? De novo, à primeira vista, parece que depois de ter impedido o Homem de «tomar também da Árvore da Vida» para o salvar do pior, seja Deus que queira lhe barrar o acesso. É em todo caso o que disto pensam nossas bíblias e a tradição.

Mas o texto é pelo menos equívoco, e permite compreender que aquele que «expulsou o Homem» e «pôs no oriente do jardim os querubins», quer dizer o sujeito não precisado dos dois verbos do versículo, não é Deus. Nem a princípio o Homem («haadam»). Poderia ser assim penso «adam» o homem caído, doravante chamado Adam, e que efetivamente não somente expulsou o Homem do jardim, mas inventou estes querubins míticos e fantasmagóricos, para «guardar o caminho da Árvore da Vida». Além do mais que «guardar o caminho» pode certamente significar o interditar, mas também o proteger, o preservar, o indicar o acesso. E que a «chama da espada flamejante» não é forçosamente dissuasiva, pode assinalar o lugar que ilumina. Quanto às quatro faces dos querubins de Ezequiel, elas não impõem nenhuma direção a seguir, avante, atrás, à esquerda ou à direita. Como se dependesse de cada um — de cada «adam» descendendo de Adam — de dissipar ou não estes fantasmas, de fazer superar ou não, em sentido inverso, ao Homem que nele está, esta barreira do «sagrado» para reencontrar a familiaridade divina e a imortalidade do jardim…

Desde o versículo Gen 3,22 o Homem («haadam») está «fora de si» (mimmenou). Deus o constata e o deplora. E se pode pensar que a partir daí, e mesmo de Gen 3,12 (onde o artigo definido «ha» pode ser ou não subentendido na preposição) não é mais o Homem que age mas Adam. Em Gen 4,1 será ainda questão de «haadam» mas no passado, e em seguida jamais senão como preocupação no pensamento de Deus ou como referência à origem. O Homem («haadam») não morreu mas não está mais presente no relato.