Se, por exemplo, considerarmos a tradição hebraica, veremos que se fala, no Sepher Ietsirah, do “Santo Palácio” ou “Palácio Interior”, que é o verdadeiro “Centro do Mundo”, no sentido cosmogônico do termo. Veremos também que o “Santo Palácio” tem sua imagem no mundo humano através da residência, num certo lugar, da Shekinah, que é a “presença real” da Divindade. Para o povo de Israel, a residência da Shekinah era o Tabernáculo (Mishkan), que por essa razão era considerado como o “Coração do Mundo”, pois consistia de fato no centro espiritual de sua própria tradição. Esse centro, aliás, não se encontrava de início num lugar fixo; quando se trata de um povo nômade, como era o caso, seu centro espiritual deve-se deslocar com ele, permanecendo contudo sempre o mesmo no decurso de tal deslocamento. “A residência da Shekinah, diz o Sr. Vulliaud, só foi fixada na época da construção do Templo, para o qual Davi tinha preparado ouro, prata e tudo o que era necessário para Salomão concluir a obra. O Tabernáculo da Santidade de Jehovah, a residência da Shekinah, é o Santo dos Santos que constitui o coração do Templo, que é por sua vez o centro de Sion (Jerusalém), como a santa Sion é o centro da Terra de Israel, como a Terra de Israel é o centro do mundo.” Pode-se notar que existe aí uma série de extensões dada de forma gradual à ideia de centro nas aplicações que são feitas sucessivamente, de modo que a denominação “Centro do Mundo” ou “Coração do Mundo” é finalmente estendida à Terra de Israel inteira, enquanto que esta é considerada como a “Terra Santa”. E é preciso acrescentar que, sob o mesmo ponto de vista, ela recebe também, entre outras denominações, a de “Terra dos Viventes”. Diz-se que a “Terra dos Viventes compreende sete terras”, e o sr. Vulliaud observa que “essa Terra é Canaã, na qual havia sete povos”, o que é exato no sentido literal, ainda que uma interpretação simbólica seja também possível. [Guénon]