Sagrado

Tradição — Sagrado

VIDE: hierofania, espiritual, mito, panteísmo, politeísmo, religião, religiosidade, rito, templo, teofania

Mircea Eliade demonstrou que é em torno da consciência da manifestação do sagrado que se organiza o comportamento do homo religiosus. Este crê em uma realidade absoluta, o sagrado, e desse fato, assume no mundo um modo de existência específico.

O sagrado manifesta-se sob diversas formas: ritos, mitos, símbolos, homens, animais, plantas, etc.

Ele manifesta-se qualitativamente de forma diferente do profano, e chama-se hierofania a irrupção do sagrado por intermédio do mundo profano.

O homem apreende a irrupção do sagrado no mundo e descobre assim a existência “de uma realidade absoluta, o sagrado que transcende este mundo, mas que nele se manifesta e, desse jato, o torna real”.

Manifestando-se, o sagrado cria uma dimensão nova. Descobrir essa dimensão sacra do mundo é próprio do homo religiosus, para quem o profano somente tem sentido na medida em que ele é revelador do sagrado.

Como diz Mircea Eliade:

QUOTE()“O «sagrado» é um elemento na estrutura da consciência, e não um estágio na história desta consciência. E pela imitação dos modelos revelados por Seres Sobrenaturais que a vida humana toma sentido. A imitação de modelos trans-humanos constitui uma das características primeiras da vida «religiosa», uma característica estrutural que é indiferente à cultura e à época. A partir dos documentos religiosos mais arcaicos que nos sejam acessíveis até ao cristianismo e ao Islã, a imitatio dei, como norma e linha diretriz da existência humana, jamais foi interrompida; na realidade, não poderia ter sido de outra forma. Em níveis mais arcaicos de cultura, viver enquanto ser humano é cm si um ato religioso, pois a alimentação, a vida sexual e o trabalho têm um valor sacramental. Em outros termos, ser (ou melhor, tornar-se) um homem significa ser «religioso» “. (A Nostalgia das Origens)QUOTE

A função mediadora do sagrado vai exprimir-se em cinco aspectos fundamentais: a teofania, o símbolo, o mito, o rito e a iniciação. [[Fernand Schwarz: A hierofania ou a irrupção do sagrado no mundo profano]

Adin Steinsaltz (Adin Even Yisrael) A rosa de treze pétalas

O significado da raiz do conceito “do sagrado” na linguagem sagrada é separação, o que implica em afastamento e remoto. O sagrado é o que fica fora dos limites, intocável, e totalmente além do alcance; não pode ser compreendido nem definido, sendo tão totalmente diferente de tudo. Ser sagrado é, em essência, ser outro bem diferenciado.

Há muito no mundo que pode ser grande, bom, nobre ou belo, sem que necessariamente inclua nenhuma parte da essência do sagrado, porque o sagrado está além das qualificações. De fato, não pode ser descrito de outra maneira que pela mais alta de todas as designações — ou seja, como “sagrado”. A própria designação é o repúdio de todos os outros nomes e títulos.

Consequentemente, o único que pode ser chamado de sagrado é Deus; e O Sagrado, Bendito seja Ele, o Supremo e O Sagrado, é diferente de todo o resto, sendo incomensuravelmente remoto, elevado e transcendente. Não obstante, falamos da disseminação da santidade sobre o mundo, sobre todos os mundos, de acordo com seus níveis, e até sobre este mundo nosso, em todas as partes que o constituem — tempo, lugar e alma. E de fato, até somos capazes de aumentar nossa receptividade à santidade, abrindo-nos à sua influência.

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