Ruysbroeck — O ORNAMENTO DAS NÚPCIAS ESPIRITUAIS
Os três adventos do Cristo na alma
Seguimos o estudo realizado por Jacqueline Chambron, publicado em Les voies de la mystique (Hermès). Através de textos múltiplos Chambron recolhe os ensinamentos do anacoreta do vale Verde, que ecoam a mais obscura e mais luminosa das aventuras: o retorno da alma a Deus.
Não importa o título escolhido por Ruysbroeck é deste retorno que ele discorre no encantamento daquele que perdeu sua vista a perseguir o esplendor divino até a fonte de onde eflui: “Os espíritos sublimes remontaram a corrente desta veia viva até o fundo vivente onde a fonte tem sua origem. É lá que são liquificados e tomados de claridade em claridade, de felicidade em felicidade.”
Dessa subida ao cimo onde se mantém, conhece e descreve os graus que são a descoberta da semelhança, da união, e da unidade sem distinção; são os diferentes reencontros da alma e de Deus, reencontros cujo movimento vai se acelerando e se intensificando mas que permanece de certo modo sempre idêntico a ele mesmo qualquer que seja o nível onde opera.
“E a medida que os dons que o Cristo acorda são mais íntimos, que a moção que exerce é mais sutil, nosso espírito assume exercícios mais profundos e mais saborosos (…). E isto é uma coisa que se renova sempre. Pois Deus acorda dons sempre novos e nosso espírito volta sempre à unidade interior segundo a maneira pela qual Deus o solicita e o cumula de seus dons; e neste encontro recebe dons novos que são sempre mais elevados. É assim que se cresce sem cessar com vistas a atingir uma vida mais alta.”
Que Ruysbroeck fale das doçuras do enlace da alma e do corpo, do espírito e de Deus, dos tormentos da união impossível, das violências da tempestade de amor ou da beatitude do aniquilamento, ele demonstra a violência sem cessar crescente de um fogo único e devorante que vai até a extinção da alma e de Deus, coroamento da contemplação “supraessencial”.
Os extratos a seguir, escolhidos por Chambron das “Bodas Espirituais”, ilustram o tema das três vias e da não-via. Escrito em 1350, e considerado uma obra-prima, foi reconhecido pelo autor como “verdadeiro e bom”. Neste escrito Ruysbroeck parte de versículo do Evangelho segundo S. Mateus: “Vede, o Esposo vem, saias a seu encontro”. Dando a cada elemento da citação, um dos movimentos da alma para Deus, de Deus para a alma: “Vede” exprime o “des-encobrir”, a tomada de consciência, o “re-conhecimento”, a gratidão da graça; “o Esposo vem” anuncia o “advento do Cristo”; “saias” descreve a resposta da alma ou seu exercício; “a seu encontro” evoca o coroamento, a união cujo grau depende da intensidade da visão, ou seja da graça.
Excertos:
- TRIPLO ADVENTO DO CRISTO