Antonio Orbe — Cristologia
Capítulo 5.— O reformador
- Apresentação
- Da alma depende a posição ereta do corpo. O gnóstico Saturnino concebia o homem “ab angelis factum primoque opus futtile et invalidum et instabile” (Tertuliano, De anima 23,1)
- Palpitava na terra como verme até que a “centelha da vida” do deus supremo o endereçou.
- Estar em pé é próprio da humana vida perfeita. O status rigidus e vultus erectus compõem a beleza de nossa forma.
- A posição vertical (orthotes) do homem, topos do helenismo, indica o destino humano, voltado para cima; a diferença dos animais. Talvez por isso, os gnósticos descobriam no lavrador Caim sua índole triste, curvada e ainda condenada à terra; enquanto viam em Set o verdadeiro homem por invocar o Nome de Deus e olhar para cima.
- “De Adão nascem três naturezas: primeira, irracional, a que pertencia Caim; segunda, racional e justa, de que era Abel; e terceira, espiritual, a qual pertencia Set. O de barro é “à imagem”; o psíquico, “a semelhança” de deus, e o espiritual, “a ideia” (kat eidean). Destes três, sem menção dos outros filhos de Adão, se disse: ‘Este é o livro da geração dos homens’. E, por ser espiritual, Set não pastoreia (como Abel), nem trabalha o campo (georgei), como Caim, mas frutifica em filho, como os espirituais. E a este espiritual, ‘que esperou em invocar o nome do Senhor’ e que olhava para cima (ano bleponta), e cuja cidadania está nos céus, o mundo não o contém.” Clemente de Alexandria Excerpta ex Theodoto 54,1-3
- O espiritual vive em retitude, olhando para cima, por ter sua cidadania nos céus. E se se encorcunda, como o lavrador, ou pastoreia rebanhos, será porque, inconsciente de sua dignidade e destino, tem ainda vida terrena.
- A julgar por alguns textos de colorido gnóstico, o primeiro homem se apresentou erguido, com a cabeça no alto, dotado de vida por Deus. Mas aos poucos caiu por terra; mas ainda, mudou de postura, cabeça para baixo, como quem perdeu o princípio vital que o mantinha ereto, olhando o céu.
- Já desde então se vislumbra, junto com a anomalia, a necessidade do humano remédio. Há de vir um a endereçar ao homem e devolvê-lo a sua primeira posição erguida. O Salvador, o reformador.
- 1. Vocabulário
- Traduzo diorthotes como “reformador, mas há outras: “corregedor”, “retificador”, “emendador”, evocam estranhos pensamentos. Reformador não diz expressamente o “endireitador”, mas responde a seu conteúdo.
- 2. Expoentes da reforma
- a) Marcion e Apeles
- b) Atos apócrifos
- c) Plotino
- Recolhe o verbo em pugna com os sectários: “A alma não governa o mundo em virtude de um pensamento reflexo (ek dianoias), nem o corrige para nada (oude ti diorthoumen), mas, com vistas posta no anterior (e superior) a ela, o adorna todo com admirável poder.” (En. II 9,2)
- Alude claramente ao “emendatio mundi” (diorthosis tou kosmon). O descobriu entre os gnósticos, como uma premissa da intervenção salvadora.
- A alma (o demiurgo) não emenda coisa alguma no mundo, ou melhor, não tem porque ser corrigida em nada.
- d) Gnósticos
- O Salvador veio remediar a desordem introduzida no mundo pelos anjos e arcontes.
- Desordem “religioso” fundado na ignorância do verdadeiro Deus: em idolatria.
- 3. Considerações finais
- O “reformador” (diorthotes), “emenda”, “correção” (diorthosis, kathortosis, epanorthosis), aplicados à obra do Cristo supõem uma desordem prévia, talvez anterior à ktisis dos homem e ainda ao cosmos. Desordem que as fontes não determinam; talvez porque se estende à múltiplos fatos.
- O “reformador” (diorthotes), “emenda”, “correção” (diorthosis, kathortosis, epanorthosis), aplicados à obra do Cristo supõem uma desordem prévia, talvez anterior à ktisis dos homem e ainda ao cosmos. Desordem que as fontes não determinam; talvez porque se estende à múltiplos fatos.