Queda [MEHT:159-160]

Heidegger também adverte sobre o perigo de ficar tão preocupado com [160] os negócios da existência cotidiana a ponto de esquecer a questão do Ser. De fato, na primeira vez em que Heidegger fez essa distinção em Ser e Tempo, usou uma expressão religiosa para descrevê-la: queda. O Dasein é “caído”, não de um estado de integridade para um estado de pecado, mas de seu modo mais próprio de ser para um modo público de existência. Nas obras posteriores, essa distinção ganha uma forma diferente. Fala sobre aqueles que estão preocupados com os entes, com as regras que governam os entes (as ciências) e com a maneira de controlar e manipular os entes (tecnologia). Distingue essa atitude do “pensamento”, uma meditação tranquila, quase silenciosa. O pensamento é humilde e não produz efeitos (Zur Sache des Denkens, 66), por isso é facilmente abafado pelo sucesso barulhento das ciências. Para as ciências, o pensamento parece ser ociosidade, mitologia ou romantismo, mas as próprias ciências não “pensam” no sentido heideggeriano especial dessa palavra.

Assim, tanto Heidegger quanto Eckhart descrevem uma “queda” comparável na existência cotidiana. Para ambos, o homem está exposto ao perigo de se perder nos seres, de ser arrastado por uma preocupação com “isto e aquilo”. Ambos clamam por um retorno a uma base [Grund] esquecida dentro do homem, que é mais profunda do que qualquer coisa humana, na qual o homem se abre para a presença de algo que transcende completamente os entes.