Se a “gnose” se revela um instrumento de salvação por si mesma e sozinha, se é capaz de salvar pelo próprio fato de sua presença e de seu exercício, não deixa de revelar outro meio de salvação. Por exemplo, práticas concretas, ritos, tipos de “sacramentos”. Mas ritos como esses, além de serem rejeitados em bloco por alguns gnósticos, mais radicais e aparentemente mais lógicos do que os outros, por se valerem de intermediários do mundo sensível nos atos que envolvem e nos elementos que empregam, desempenham, quando são usados, apenas um papel auxiliar ou complementar: em termos concretos, quando combinados com a iniciação, servem apenas para acompanhar e confirmar a recepção da “gnose”, dos dons e poderes do Espírito, significados, em primeiro lugar, por uma iluminação interior. É verdade que, aqui e ali, há uma tendência a atribuir ao ritual e aos “sacramentos” uma eficácia e um lugar mais consideráveis, e que, ao lado de uma “gnose especulativa”, coexiste uma gnose mais decididamente “teúrgica”. Em princípio, porém, o essencial continua sendo a obtenção do Conhecimento recebido como resultado de uma revelação pessoal ou pela mediação de um Mestre, de modo que a salvação deve ser esperada da ação que o Conhecimento exerce, das transformações que opera em cada um dos iniciados; a “redenção”, a apolitrose, é, acima de tudo, uma questão individual, uma graça absolutamente interior, uma realidade exclusivamente espiritual: não requer, de modo algum, a intervenção de um rito, o recurso a práticas externas, mesmo que se trate de “obras”, “boas obras”, jejum, penitência ou mesmo oração.