PAUL DU BREUIL — ZOROASTRO
PREGAÇÃO DE ZOROASTRO
Tendo conhecido, durante muito tempo, as agruras do exílio e sofrido frio e inospitalidade (Y. 51.12), Zoroastro tinha 40 anos quando seguiu para Bactres para ali encontrar Vishtaspa, o cavi de quem ele louvava sua virtuosa reputação (Y. 28.7,8). Da dinastia Kaiânida, descendente de Friana, o Turaniano, Vishtaspa pertencia a um velho clã que o sábio Nyberg situou entre o mar de Arai e o Iaxarte. Seu ancestral, Ioshta de Friana, foi admitido na lenda dos “reis imortais” da epopéia proto-iraniana, embora fosse turaniano (Y. 46.12; Yt. 5.81). Mais provas da ecumenicidade de Zoroastro e de sua tradição. Vishtaspa é esse protetor suscetível de responder à expectativa do Sábio, já que sua tribo protege há muito o rebanho. O herói Frashaoshtra recorrerá a seu irmão Ja-maspa, conselheiro de Vishtaspa, para introduzir Zoroastro junto ao soberano (Y. 46.16,17). Frashaoshtra e Jamaspa, da ilustre família Hvogva, serão os primeiros prosélitos do profeta na corte. Mas Zoroastro terá que enfrentar a oposição dos sacerdotes e dos doutores que, para arruiná-lo, irão até ao ponto de introduzir em seu quarto relíquias do culto de magia negra. Feito isso, conta o Za-rathusht-Nama, o cavalo negro de Vishtaspa fica subitamente paralisado! Suas patas haviam se atrofiado como se fossem desaparecer no ventre. Diante da incapacidade dos carapans de tratar desse estranho mal, Vishtaspa apela para o Sábio, injustamente preso. Zoroastro examina o animal e impõe ao rei quatro condições para curar seu garanhão favorito Aspa Siha (“cavalo negro”):
1) reconhecer que ele é incontestavelmente o profeta de Ahura Masda;
2) o filho de Vishtaspa, Ishfandiar, deverá prestar-lhe juramento de amizade e proteção;
3) a rainha Hutaosa deverá aceitar os preceitos do Sábio;
4) enfim, o rei deverá fazer maus conselheiros reconhecerem as armadilhas que ardilosamente armaram contra ele.
Tendo Vishtaspa concordado com essas propostas, sobreveio o milagre e todas as patas do animal apareceram, para admiração dos velhacos cujo estratagema foi revelado.
À narrativa espetacular da conversão de Vishtaspa as Gâ-thâs opõem a versão de que foi pela persuasão de sua sabedoria que Zoroastro ganhou o apoio do soberano: “O rei Vishtaspa realizou a sabedoria de um pensamento santo numa realeza de pureza, por sua conduta virtuosa. É um soberano sábio e benfeitor que fará nossa felicidade” (Y. 51.16). Em oração, Zoroastro faz o elogio dessas conquistas à sua causa. Fashaoshstra chegará a dar sua filha em casamento ao Sábio. Zaratustra tinha 42 anos quando se casou com a filha de Frashaoshtra, que lhe deu três filhos: Isatvastar, Urvatatnar e Quirshid-Chichar, e três filhas: Freni, Trithi e Puru-chista. Quanto a Jamaspa, ele amava uma realeza santa e as ciências do Bom Pensamento. “Dá-me, por ele, ó Ahura, teus dons de regozijo, ó Masda… Esta recompensa será recebida também por Maidiomaha, o Spitama. Ele diz a lei de Masda e a pratica mais preciosamente do que é para ele a vida” (Y. 51.17.19). A esposa de Vishtaspa, Hutaosa, toma-se também uma ativa protetora da nova fé.
Zoroastro exortava seus protetores a apoiar sua doutrina: “Que o rei Vishtaspa, discípulo de Zaratustra, e Frashaoshtra, ensinem pelo pensamento, pela palavra e ação, a satisfazer Masda, a regar para ele, indicando os caminhos puros e a religião que Ahura estabeleceu para os santos” (Y. 53.2). Tendo casado sua filha Puruchista com o ministro Jamaspa, o Sábio recomendou-lhe que fosse tão boa esposa como fora boa filha (53.3).
A tradição relata em seguida o êxtase que Zoroastro fez chegar a Vishtaspa, sob a visão de quatro magníficos cavaleiros brancos personificando os principais arquétipos de Masda. Em lugar de se contentar com uma vida cômoda e confortável na corte de Vishtaspa, Zoroastro percorreu, sem cessar, as regiões vizinhas a pé, a cavalo, camelo ou iaque, para difundir a fé masdaica, durante 30 anos.
Diz-se ainda que Zoroastro e seu benfeitor erigiram altares de fogo por toda a parte, sendo que Ardeshir (224.241), o primeiro soberano sassânida, propagava, através dele, os templos de fogo. Vishtaspa teria enviado seu filho Ishfandiar para converter as regiões longínquas à nova religião.
Enquanto Frashaoshtra, sogro de Zoroastro, toma-se o apóstolo do Mazanderão (Tabaristão), região idólatra ao sul do Cáspio, os discípulos levavam a mensagem de Zoroastro até a índia. Um brâmane chamado Tchengreghatchah teria chegado em Bactres para ali confrontar-se com o sábio iraniano. Porém, convertido, ele teria voltado para converter 80.000 sábios indianos3.
Se a história nada conservou desse proselitismo na índia, os primeiros textos avésticos anunciaram a difusão da nova fé em todas as regiões do mundo (Yt. 13.94,99,100) e as Gâthâs exaltaram a conversão de todos os homens à palavra de Zoroastro. Seu primeiro discípulo, Maidiomaha, queria espalhá-la por todo o universo (Y. 51.19).