Excertos de Roberto Pla, “El HOMBRE TEMPLO DE DIOS VIVO”, Evangelho de Tomé – Logion 71
Para o autor deste tratado gnóstico, o sono profundo de Adão, descrito em Gn 2,21 (veja também Paul Nothomb, Bíblia das Origens), explica a incapacidade da alma (Adão) recém-criada para se dar conta de si por si mesma, quer dizer, relata a carência de reflexão da alma sobre si mesma, uma reflexão que aporte à consciência a luz de suas próprias percepções. A este sono profundo o denomina o gnóstico, “a embriaguez da obscuridade”.
Para conseguir o despertar de Adão, levou YHWH diante dele não o “osso dos ossos” (a costela = Eva ), com diz Gen 2,23, senão a “reflexão luminosa”. Esta, a reflexão, é a verdadeira “alma da alma”, se se atende ao significado da alegoria, que emprega o vocábulo “osso” = alma, no cântico e vaticínio de Adão (para a alegoria do osso, veja Clemente de Alexandria, Clemente Excertos Teodoto 63, 1ss).
Se diz que a reflexão luminosa correu o véu que estava sobre a inteligência de Adão, e em razão da luz que o aportava, denominou Adão (a Eva, a reflexão), a “mãe de todos os viventes”.
Graças à reflexão luminosa (Eva), descobriu Adão a existência do conhecimento e com ele viu a necessidade de comer o fruto aquela árvore para olhar com êxito ao céu em busca da perfeição.
Mas o autor gnóstico agrega: “Foi a serpente aquela que o ensinou a semeadura do desejo da impureza e a destruição”. Com isto se entende a dupla direção do caminho que foi aberto para Adão. O fruto da árvore, é com efeito, semente para a faculdade de conhecer.
A desnudez descoberta pelo homem e a mulher depois de ter comido da árvore, é desnudez de conhecimento e, por conseguinte, o desejo de obtê-lo. Não a desnudez do corpo como se costuma interpretar, senão da alma. O corpo, ou túnica de pele, que o gnóstico explica como feito de “sombria obscuridade” foi uma provisão posterior, de YHWH-Deus. O gnóstico afirma inclusive: “Pela árvore o instruiu para comer o conhecimento, para que pudesse recordar sua perfeição (original) já que seu defeito era a ignorância”.
Como obra da reflexão luminosa, o fruto abre o caminho até o perfeito, e como resultado da semeadura da serpente, é desejo da impureza e da destruição, quer dizer, “o desejo de todas as coisas do Cosmos.
Com isto se esclarece que a serpente genesíaca, é um do nomes designados pelo AT ao antimimo, o quinto membro da casa antropológica (vide Evangelho de Tomé – Logion 71). O outro nome usado em ambos testamentos, para o antimimo é, em consequência, o do “Adversário” (o Satanás) idêntico à Serpente antiga. Se se o chama de “Adversário”, é porque a consciência se o representa como seu eu, seu próprio “espírito”, mas não é isto realmente, senão somente um arremedo do Espírito de Deus: um Adversário de Deus erigido na consciência dos homens.
Com o Adão que comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal, pretende descrever o Gênesis ao homem capacitado para exercer sem limites sua faculdade de conhecer, mas o acesso ao conhecimento não é possível se o homem não é impulsionado antes pelo desejo de conhecer. Não há que esquecer que o desejo é a única potência volitiva de que dispõe o homem para se aproximar aos fins do conhecimento.