Pistis Sophia 1

PISTIS SOPHIA
Tradução de Yara Azeredo Marino e Elisabete Abreu de Pistis Sophia, da versão francesa feita do copta por E. Amélineau (1895), Milão, Ed. Arché, 1975, p. 1-2

Ele chegou logo após Jesus ter ressuscitado de entre os mortos, e passou onze anos falando aos seus discípulos e instruindo-os (a quem ele encontrava) até os graus das primeiras Ordens e os graus do primeiro mistério que se encontra dentro do véu que está na primeira Ordem, o vigésimo quarto mistério. E abaixo destes que estão em segundo Plano do primeiro mistério, que está antes de todo o mistério: o Pai assemelha-se à Pomba. E Jesus dizia aos seus discípulos: “Venho deste primeiro mistério que é o último mistério, isto é, o vigésimo quarto”. E como os discípulos não sabiam e não compreendiam que existe algo no interior desse mistério, pensavam que esse mistério era o chefe do Pleroma e a cabeça de tudo que existe, pois Jesus havia lhes dito a respeito daquele mistério: “É ele que envolve a primeira Ordem e os cinco Abismos e a grande luz e os cinco Parastates e todo o tesouro de luz”, e entretanto Jesus não disse de modo algum aos seus discípulos toda a emanação de todos os lugares do grande Invisível. Nem lhes disse nada sobre os Triplos Poderes, nem sobre as 24 Invisíveis com todos os seus lugares, seus Éons e sua hierarquia, a maneira como eles são emanados, pois representam emanações do grande Invisível, assim como seus ingênitos, seus Autógenos, seus Engendrados, seus Astros, seus Solitários, seus Arcontes, seus Poderes, seus Senhores, seus Arcanjos, seus Anjos, seus Decanos, seus Liturgos e todas as moradas de sua esfera e todas as hierarquias de cada uma delas. E Jesus não havia de forma alguma dito aos seus discípulos toda a dispersão das emanações do Tesouro, nem suas hierarquias, de acordo com o modo que eram emanadas. E ele não lhes dissera seus Salvadores conforme a ordem de cada um tal qual eles são; e ele não lhes dissera quais são os guardiões que estão junto de cada uma [das portas] do tesouro de luz; e ele não lhes dissera de forma alguma o lugar do Salvador dos Gêmeos, isto é, o Filho do Filho; e ele não lhes dissera os lugares dos três Améns, nem em quais lugares eles foram espalhados; e ele não lhes dissera nada sobre o lugar em que se encontram as cinco Árvores, nem os sete Améns, isto é, as sete Vozes, nem qual é o seu lugar segundo a maneira pela qual elas são emanadas; e Jesus não havia dito aos seus discípulos qual era o tipo dos cinco Parastates ou de que lugar eles se originavam; e ele não lhes dissera como a grande Luz era emanada ou de que lugar se originara; e ele não lhes dissera os cinco Abismos nem a primeira Ordem de onde eles eram emanados. Mas ele lhes falou somente e lhes ensinou que eles existem, sem lhes dizer sua emanação e a hierarquia de seus lugares, isso porque eles não sabiam existir outros lugares dentro daquele mistério. E ele não dissera aos seus discípulos: “Vim de tal lugar até que entrasse nesse mistério, até que tivesse saído”, mas ele lhes dissera nos ensinamentos: “Vim do mistério”, porque eles acreditavam que o mistério representava a perfeição das perfeições e que ele comandava o Pleroma e até mesmo que ele era o Pleroma, pois Jesus dizia aos seus discípulos: “É esse mistério que envolve esses Pleromas que vos tenho dito tantas vezes, desde o dia em que vos encontrei até hoje”. É por isso que os discípulos pensavam que não há nada no interior do mistério — ele chegou, enquanto os discípulos estavam sentados no monte das Oliveiras, falando dessas coisas, rejubilando-se em uma grande alegria e muito exultantes, diziam uns aos outros: “Somos felizes, mais do que todos os homens que vivem na terra, porque o Salvador isso nos revelou e recebemos o Pleroma e a Perfeição”.