Timothy Ware — A Igreja Ortodoxa (The Orthodox Church)
De acordo com os Padres gregos, os termos imagem e semelhança não significam exatamente a mesma coisa. "A expressão 'à imagem', escreve João Damasceno, indica racionalidade e liberdade, enquanto a expressão 'à semelhança' indica assimilação a Deus através da virtude" (Sobre a Fé Ortodoxa, II, 12). A imagem, ou para usar o termo grego eikon, de Deus significa o livre arbítrio do homem, sua razão, seu sentido de responsabilidade moral — tudo, enfim, que destaca o homem da criação animal e o faz uma pessoa. Mas a imagem significa ainda mais. Significa que somos os "brotos" de Deus (Atos XVII, 28), Sua espécie; significa que entre nós e Ele há um ponto de contato, uma similaridade essencial. O abismo entre criatura e Criador não é intransponível, pois por sermos à imagem de Deus podemos conhecê-Lo e comungar com Ele. E se um homem faz um uso justo de sua faculdade de comunhão com Deus, então se tornará "semelhante" a Deus, adquirirá a semelhança divina; nas palavras de João Damasceno, será "assimilado a Deus através da virtude". Adquiri a semelhança é ser deificado (theosis), é se tornar um "segundo deus", um "deus pela graça". "Eu disse, sois deuses, e todos filhos de Altíssimo" (Salmo LXXXI, 6).
A imagem denota os poderes que todo homem é dotado por Deus do primeiro momento de sua existência; a semelhança não é um dote que o homem possui de partida, mas uma meta a qual deve almejar, algo que só se adquire por graus. Embora pecaminoso, um homem nunca perde a imagem; mas a semelhança depende de uma escolha moral, de nossa "virtude" (arete), e assim é destruída pelo pecado (hamartia).