Simone Pétrement — UM DEUS SEPARADO
Quando os gnósticos falam da figura que chamamos o Demiurgo, ou como alguns o denominam também «o Deus dos Judeus», eles não estão criando um mito. Na medida que o Demiurgo é um personagem, ele existiu antes dos gnósticos, pois estava presente nas Escrituras conhecidas dos cristãos e gnósticos, ou seja, no AT. O demiurgo é simplesmente o Deus do AT. Chamado por um nome em grego que significa Artesão, porque o Deus do AT é essencialmente o Criador do mundo.
O que é particular na ideia gnóstica do Demiurgo, não é seu caráter de artesão, já em Platão e Fílon, mas o fato desta figura se distinguir do verdadeiro Deus. Esta distinção pode ser considerada como o centro da decisão fundamental do gnosticismo. As narrativas que assim o estimam e configuram podem ser assim resumidas:
O Demiurgo, quer dizer, o Deus do Antigo Testamento, acreditou e se proclamou ser ele mesmo ser o verdadeiro Deus. Ele queria ser o único regente da alma humana. Mas o Salvador veio, enviado por seu Pai que está muito acima do Demiurgo e quem o Demiurgo desconhece. Descendo ao mundo, o Salvador ensinou a existência deste Deus, cujo reinado é o reino transcendente da verdade. Aqueles que aceitaram sua mensagem sabem doravante que o Demiurgo não é Deus, que é somente um dos «poderes» que governam o mundo; que a verdade não é o que o Demiurgo sabe e ensina; que eles mesmos derivam do Pai, como o Salvador, e também não são deste mundo. Este conhecimento permite a eles romper através da sete esferas cercando o mundo e chegar a outra realidade, que é tanto sua própria origem e sua própria destinação.