A oposição entre a pertença ao mundo e a pertença à Vida é tão essencial, que também a palavra – precisamente porque, como [206] veremos, ela tem sempre um suporte fenomenológico – é determinada por ela. “Eles são do mundo; por isso falam segundo o mundo e o mundo os ouve. Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus nos ouve, quem não é de Deus não nos ouve” (1 João 4,5-6). E ainda aqui Paulo repercute esta oposição essencial: “Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra”, guardando-lhe a motivação fenomenológica, a saber, que a vida, ainda a de um homem, não advém senão na Vida, enquanto, no “fora de si” do mundo onde se lança a Preocupação, esta não encontra senão a morte. “Pois morrestes e vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Colossenses, respectivamente, 3,2 e 3,3). E tem-se então a declaração grandiosa aos Gálatas, que vincula de modo explícito a condenação da Preocupação à fenomenalização do mundo e a seus modos temporais concretos: “Observais cuidadosamente dias, meses, estações, anos! Receio ter-me afadigado em vão por vós” (4, 10-11).
Porque a Preocupação é a do mundo, ela se torna destituída no princípio da capacidade de dar aquilo com que ela se preocupa. O que ela dá, ela o suprime imediatamente no movimento mesmo pelo qual ela se preocupa. Só o dá destruindo-o, na forma do que ainda não é, ou do que já não é e que, desse modo, não será jamais. Só o dá na forma de um irreal, qualquer que seja a forma tomada por este: lembrança, espera, imagem, simples conceito. Esta irrea-lização de tudo aquilo de que a Preocupação é preocupação não está na Preocupação enquanto modo particular da vida, mas no gênero de fenomenalidade a que de início ela confiou tudo aquilo com que se preocupa. A esta fenomenalidade, que é a do mundo, pertence, como vimos, irrealizar a priori tudo o que ela faz ver, não fazendo com se veja senão no ato pelo qual, pondo-o fora de si, o esvazia de sua realidade.