Apostolado — O percurso pelas cidades — Caracteres das cidades (Mt X, 15-18; Lc X, 8-12)
15 Amén, eu vos digo:
o dia do julgamento será mais tolerável para a terra de Sedôm e de ‘Amora do que para aquela cidade.
16 Eis, eu vos envio
como ovinos ao meio dos lobos.
Por isso, sede sábios como as serpentes e simples como pombas.
17 «Tende cuidado com os homens, sim, eles vos entregarão aos tribunais, eles vos chicotearão em suas sinagogas. (Chouraqui; Mt 10:15-18)
8 Em toda cidade onde entrardes, e onde vos acolherem,
comei do que vos for servido.
9 Curai os enfermos que ali estão. Dizei-lhes: “Aproxima-se de vós o reino de Elohîms!”
10 Em toda cidade onde entrardes e onde não vos acolherem,
saí para as praças e dizei:
11 “Até a poeira de vossa cidade
colada ao pés, nós a sacudiremos para vós! Contudo, penetrai que se aproxima, o reino de Elohîms!”
12 Eu vos digo: Sim, para Sedôm,
este dia será mais tolerável que para essa cidade. (Chouraqui; Lc 10:8-12)
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 73
a) Contra aquela “cidade” será o rigor do Juízo. Em Sodoma e Gomorra reinou a impureza, mas nela morava Lot que pôde escapar da destruição porque achou seu “refúgio” em outra cidade que, como a pedra angular da parábola, assemelhava-se ser um “nada” desprezível; mas Soar, aquela cidade, o “nada” em aparência, resultou ser o lugar de salvação, o lugar santo. No entanto, quanto a esta “cidade” feita de “pó do solo”, seu ser único consiste em ser impureza. Quando de uma “cidade” assim se retira o sopro de vida, a nefes, só resta a morte, e isto é o juízo.
b) As “ovelhas”, são todas aquelas almas que, como ocorre com os Doze, ou com os Sete, começaram a dar fruto em distinta medida do conhecimento: estão ainda “perdidas”, mas buscam dirigir-se. Em frente delas, os “lobos” são, no texto, os representantes do mundo, e também são o mundo mesmo, quer dizer, os homens que ainda não dão fruto de conhecimento porque não despertaram neles a semente que os foi semeada. Também são as “cidades” (v. Casas e Cidades), ou esferas objetivas onde estes homens se movem habitualmente e nas quais se desenvolverão também as ovelhas.
O fato de ser Jesus que envia as ovelhas, revela que estas, de certo modo, saem dele, quer dizer, que são como raios atenuados de sua sabedoria e portanto, em unidade com ele. Por isso insiste Jesus: “quem a vós recebe a mim me recebe”. As duas qualidades que Jesus pede às “ovelhas” estão vinculadas à ação dos batismos de fogo e de água; pela prudência, já se sabe, devem mostrar seu discernimento entre o bem e o mal, que foi o proposto ao comer da árvore: e a pureza equivale a manter-se imaculadas, sem mescla, que dizer, não condicionadas ou contaminadas pelo mundo.
c) Os “homens” de cuja influência devem se guardar as “ovelhas” são, neste caso, os dotados para o mundo mas não para o fruto. Estes homens costumam ser sempre os que governam e reinam e, também os que regem o juízo mundano. Eles defendem com rigor os postulados de suas “crenças” organizadas e manifestas, representadas no texto pela “sinagoga”. O que Jesus pede a suas “ovelhas”, que deem testemunho ante os homens sem fruto, mundanos, sejam da sinagoga ou de outras nações, do fruto crescido e maduro nelas. Posto que a semeadura se efetua em todo homem que vem a este mundo, é preciso que a Boa Nova seja proclamada em todos.