Naqueles dias, os homens procurarão a morte…

“Naqueles dias, os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá deles” (Apocalipse 9,6).

Os homens rebaixados, humilhados, desprezados e desprezando-se a si mesmos; adestrados desde a escola para se desprezar, para se considerar nada – partículas e moléculas; admirando tudo o que é menos que eles; execrando tudo o que é mais que eles. Tudo [381] o que é digno de amor e de adoração. Os homens reduzidos a simulacros, a ídolos que não sentem nada, a autômatos. E substituídos por eles – por computadores, por robôs. Os homens expulsos de seu trabalho e de sua casa, empurrados para cantos e vazios, contraídos nos bancos do metrô, dormindo em caixas de papelão.

Os homens substituídos por abstrações, por entidades econômicas, por lucros e dinheiro. Homens tratados matematicamente, informaticamente, estatisticamente, contados como animais e valendo muito menos que eles.

Os homens desviados da Verdade da Vida, lançando-se a todos os engodos, a todos os prodígios em que esta vida é negada, escarnecida, imitada, simulada – ausente. Os homens entregues ao insensível, tornados eles próprios insensíveis, e cujo olho é vazio como o de um peixe. Os homens idiotizados, votados aos espectros, aos espetáculos que expõem por todas as partes sua própria nulidade e sua decadência; votados aos falsos saberes; reduzidos a cascas vazias, a cabeças desabitadas – a “cérebros”. Os homens cujas emoções e amores não são senão secreções glandulares. Os homens que foram liberados fazendo-os crer que sua sexualidade é um processo natural, em vez de e em lugar de seu Desejo infinito. Os homens cuja responsabilidade e dignidade já não têm nenhum lugar assinalado. Os homens que, no aviltamento geral, invejarão os animais.

Os homens quererão morrer – mas não a Vida.

Não é qualquer deus hoje que nos pode ainda salvar, mas tão somente – quando por todos os lados cresce e se estende sobre o mundo a sombra da morte – Aquele que é Vivente.