Pedro Damasceno — Livro I
Excertos traduzidos por Antonio Carneiro. Fonte: Pierre Damascène
Citation du Livre Premier de Pierre Damascène. / Citação do Livro Primeiro de Pedro Damasceno
Ce livre débute par une énumération des “sept actions du corps”, dont nous extrayons :
Esse livro principia com uma enumeração das “sete ações do corpo”, onde extraímos:
La quatrième est la psalmodie, la prière corporelle qui passe par les chants des psaumes et les génuflexions, pour que le corps s’épuise, pour, que l’âme s’humilie, que fuient nos ennemis les démons, que nous assistent les anges qui combattent avec nous, que nous sachions d’où vient le secours, et que l’ignorance ne nous mène pas à l’orgueil en nous donnant à penser que les oeuvres nous sont propres. Alors nous serions abandonnés de Dieu, pour connaître notre propre faiblesse.
A quarta é a salmódia, a oração corporal que passa pelos cantos dos salmos e as genuflexões, a fim de que o corpo se esgote, afim de que a alma se humilhe, que fujam os nossos inimigos: os demônios, que nos assistam os anjos que combatem conosco, que nós saibamos de onde vem o socorro, e que a ignorância não nos leve ao orgulho nos fazendo achar que as obras nos são próprias. Então nós seríamos abandonados por Deus, para conhecer nossa própria fraqueza.
La cinquième est la prière spirituelle qui vient par l’intelligence et écarte toute pensée. L’intelligence se tient à ce qu’elle dit et se prosterne devant Dieu, ineffablement brisée, Elle ne cherche qu’à faire la volonté divine dans toutes ses actions, dans toutes ses méditations. Elle ne reçoit aucune pensée, aucune forme, aucune couleur, aucune lumière, aucun feu, ni quoi que ce soit d’autre. Mais elle est sous le regard de Dieu et ne parle qu’à lui seul. Elle est elle-même hors de toute figure, de toute couleur, de toute forme. Telle est la prière pure, qui convient à celui qui est encore actif. Quant au contemplatif, il reçoit de plus grandes choses.
A quinta é a oração espiritual que vem da inteligência e afasta todo pensamento. A inteligência se prende ao que ela disse e se prosterna diante de Deus, inefavelmente quebrada, Ela não procura fazer senão a vontade divina em todas suas ações, em todas suas meditações. Ela não recebe nenhum pensamento, nenhuma forma, nenhuma cor, nenhuma luz, nenhum fogo, nem o que quer que seja. Mas, ela está sob o olhar de Deus e não fala senão para Ele. Ela é ela mesma fora de toda figura, de toda cor, de toda forma. Tal é a oração pura, que convém àquele que está ainda ativo. Quanto ao contemplativo, ele recebe as maiores coisas.
Première prière / Primeira oração
J’ai voulu par mes larmes effacer le manuscrit de mes fautes, Seigneur, et passer à Te plaire le reste de ma vie dans le repentir. Mais l’ennemi me trompe et combat mon âme. Seigneur, avant que je sois perdu à la fin, sauve-moi.
Eu quis com minhas lágrimas apagar o manuscrito de minhas faltas, Senhor, e passar à Te agradar o resto de minha vida no arrependimento. Mas, o inimigo me engana e combate minha alma. Senhor, antes que seja perdido no final, salva-me.
J’ai péché contre Toi, Sauveur, comme le fils prodigue. Père, reçois-moi qui me repens. Dieu, aie pitié de moi.
Eu pequei contra Ti, Salvador, como o filho pródigo. Pai, receba-me que me arrependo. Deus, tenha piedade de mim.
Je T’appelle, Christ Sauveur, comme T’appelle le Publicain. Dieu, purifie-moi comme lui, aie pitié de moi.
Eu Te chamo, Cristo Salvador, como Te chama o Publicano. Deus, purifica-me como ele, tenha piedade de mim.
Qu’en sera-t-il à la fin ? Qu’adviendra-t-il ? Hélas, malheureux, hélas, qui versera l’eau sur ma tête ? Et qui donnera à mes yeux la source des larmes ? Qui peut me rendre digne de pleurer ? Car je ne puis le faire moi-même. Venez, montagnes, couvrez-moi le misérable. Hélas, qu’ai-je à dire ? Ô que de bien Dieu m’a fait, que Lui seul connaît, et que de maux mon ingratitude a suscités ! Par mes oeuvres, mes paroles et mes pensées, j’irrite toujours le Bienfaiteur. Plus Il fait patience, plus j’ai de présomption, misérable, et je deviens plus insensible que les pierres sans âme. Cependant je ne désespère pas. Mais je reconnais Ton amour de l’homme.
O que será no final? O que ocorrerá? Oh, infeliz, oh, quem despejará a água sobre minha cabeça? E quem dará à meus olhos a fonte das lágrimas? Quem pode me tornar digno de chorar? Pois eu não consigo fazê-lo por mim mesmo. Vindes, montanhas, encubra-me o miserável. Oh, que tenho eu a dizer? Ah quanto bem Deus me fez, que só Ele conhece, e quantos males minha ingratidão suscitou! Pelas minhas obras, minhas palavras e meus pensamentos, eu irrito sempre o Benfeitor. Quanto mais Ele pacienta, mais tenho presunção, miserável, e torno-me mais insensível que as pedras sem alma. Entretanto não me desespero. Mas reconheço teu amor ao homem.
Je n’ai pas acquis le repentir, ni non plus les larmes. Je Te supplie donc, Sauveur, de me faire revenir avant la fin, et de me donner le repentir. Que je sois délivré du châtiment.
Eu não adquiri o arrependimento, nem sequer lágrimas. Eu Te suplico então, Salvador, de me fazer voltar antes do fim, e de me dar o arrependimento. Que eu seja liberado do castigo.
Seigneur mon Dieu, ne m’abandonne pas. Car je ne suis rien devant Toi. Je suis tout entier pécheur. Où trouver le moyen de sentir mes nombreux maux ? Mais je ne fais rien. Et c’est là ma grande condamnation. Pour moi ont été créés le ciel et la terre, et pour moi les quatre éléments et ce qui est sorti d’eux, comme dit Grégoire le Théologien. Et je tairai le reste. Car je ne suis pas digne d’en parler, à cause de la multitude de mes maux. Qui peut comprendre, quand bien même lui serait donnée une intelligence angélique, les innombrables bienfaits que j’ai reçus ? Mais voici, en refusant le repentir, malheureux, je me suis voué à déchoir de tout.
Senhor meu Deus, não me abandones. Pois não sou nada diante de ti. Sou totalmente pecador. Onde achar o meio de sentir meus numerosos males? Mas não faço nada. E aí está minha grande condenação. Para mim foram criados o céu e a terra, e para mim os quatro elementos e o que saiu deles, como diz Gregório o Teólogo. E eu calarei o resto. Pois não sou digno de falar disso, por causa da multidão de meus males. Quem pode compreender, mesmo que lhe seja dada uma inteligência angélica, as inumeráveis benfeitorias que eu recebi? Mas eis aqui, recusando o arrependimento, infeliz, sinto-me inclinado a tudo declinar.
Seconde prière. / Segunda oração
Mais qui suis-je pour oser en appeler à Toi qui connais les coeurs ? Je parle pour apprendre moi-même que je me réfugie en Toi, le port de mon salut, et pour que l’apprennent les ennemis. Car je sais par Ta grâce, parce que Tu es mon Dieu, et non parce que j’ose Te parler. Mais je voudrais n’être devant Toi qu’une intelligence vide, sourde et muette. Ce n’est pas moi, mais Ta grâce qui met tout en oeuvre. Je sais qu’en moi-même il n’est jamais rien de bon. Je suis toujours plein de vices. Mais à cause d’eux, dans ma condition de servitude, je me prosterne devant Toi. Car tu m’as donné de me repentir. Je suis Ton serviteur, le fils de Ta servante.
Mas quem sou eu para ousar chamar a Ti que conhece os corações? Eu falo para eu mesmo aprender que me refugio em Ti, o porto da minha salvação, e para que os inimigos o aprendam. Pois eu sei pela Tua graça, porque Tu és meu Deus, e não porque eu ouso Te falar. Mas eu queria estar diante de Ti apenas como uma inteligência vazia, surda e muda. Não sou eu, mas Tua graça que põe tudo em obra. Eu sei que em mim mesmo nada há jamais de bom. Eu estou sempre cheio de vícios. Mas, por causa deles, na minha condição de servidão, me prosterno diante Ti. Pois Tu me deu o arrependimento. Eu sou Teu servidor, o filho de Tua serva.
Mais, mon Seigneur Jésus Christ, mon Dieu, ne permets pas que je fasse, ou dise, ou pense ce que Tu ne veux pas. Tant de fautes passées me suffisent. Mais comme Tu veux, aie pitié de moi. J’ai péché. Comme Tu sais, aie pitié de moi. Je crois, Seigneur, que Tu entends ma pauvre voix. Aide mon incroyance, Toi qui, avec l’être, m’as donné d’être chrétien. “Ce m’est une grande chose, dit Jean de Carpathos, que d’être appelé moine et chrétien.” Toi-même, Seigneur, l’as dit à l’un de tes serviteurs : “C’est pour toi une grande chose qu’en toi soit invoqué Mon Nom.” Une telle chose est meilleure pour moi que tous les royaumes de la terre et du ciel. Mais que je puisse toujours invoquer Ton Nom très doux : “Maître plein de miséricorde, je te rends grâce”, etc., comme il est écrit.
Mas, meu Senhor Jesus Cristo, meu Deus, não permitas que eu faça, ou diga, ou pense o que Tu não queiras. Tantas faltas passadas me bastam. Mas, conforme Tua Vontade, tende piedade de mim. Eu pequei. Como Tu sabes, tende piedade de mim. Eu creio, Senhor, que Tu escutas minha pobre voz. Ajude minha descrença, Tu que, com o ser, me permitiu ser cristão. “É para mim uma grande coisa, disse João de Carpathos, ser chamado de monge e cristão.” Tu mesmo, Senhor, disse à um de seus servidores: É para ti uma grande coisa que em ti seja invocado Meu Nome.” Uma tal coisa é melhor para mim do que todos os reinos da terra e do céu. Mas que sempre possa invocar Teu Nome dulcíssimo: “Mestre cheio de misericórdia, eu te dou graça”, etc., como está escrito.