Pascoa Christus Dies

PÁSCOA — SACRAMENTO DA PÁSCOA
No termo da passagem: Christus Dies (Cristo Dia)

Se os versículos da Epístola aos Romanos, 13, 12, «Nox praecessit, dies autem appropinquavit» (Precedeu a noite, chegou o dia) e aos Efésios, 5, 8, «Fuistis aliquando tenebrae, nunc autem lux in Domino (Fostes antes trevas, agora sois luz no Senhor), se repetem tantas vezes na pregação pascal, é que o Batismo, que é a Páscoa dos Recém-nascidos, é que a Páscoa dos fiéis, os engolfa, ao cabo da passagem, em Cristo Luz, em Christus Dies. Sto Agostinho não inova, retoma uma expressão tradicional, empregada antes dele, por S. Cipriano: Christus sol verus et dies verus (Cristo sol verdadeiro e dia verdadeiro).

Pode-se dizer que a liturgia das festas pascais recorda incessantemente a luz. Exaltam-na os textos e os cantos da vigília. O dia de Páscoa retumba com o Aleluia e com o versículo do Sl 117, 24, «Hic est dies quem fecit dominus» (Este é o dia que o Senhor fez), que se retoma no dia da Oitava, em que é tradicionalmente comentado. Os cristãos vão em marcha para a luz. Não começam por isso as jornadas ao amanhecer, como principiam os dias do Gênesis, mas iniciam-nas ao cair da noite precedente «porque vos esforçais em passar não da luz para as trevas mas das trevas para a luz, que é o que nós esperamos fazer com o auxílio do Senhor». Pois o homem libertado dos pecados chega à luz da justiça.

Mais ainda, os fiéis também são luz, eles é que são este «Dia que o Senhor fez» (Et lucem vocavit diem; Gn 1, 5) … se, pois, à luz chamou Dia, não m há dúvida de que aqueles a quem fala o Apóstolo (Éreis antes trevas, agora sois luz no Senhor) são o Dia; todos os santos, todos os fiéis e, por conseguinte, todos os justos (pois o justo vive da fé), 1 — todos juntos na mais concorde união são o Dia, e a união de todos eles é o único Dia» (S Guelf. 18, 1). Sem dúvida este dia é «aquele que o Senhor fez» e a segunda parte do versículo ganha importância na polêmica antipelagiana «Se eles se fizeram justos a Sl mesmos, já não são o Dia que o Senhor fez» (S Guelf. 18, 1).

Este Dia é o octavus dies, o oitavo dia, prefigurado na circuncisão, realizado na Ressurreição, aperfeiçoado na efusão do Espírito no Pentecostes, apresentado a todos os olhos na celebração litúrgica da Oitava dos Recém-nascidos; este oitavo Dia é a vida eterna. «Na verdade, no número oito prefigura-se o que pertence ao século futuro, onde o volver dos tempos nada acrescenta nem tira, pois lá perdura sem mudança a felicidade sem fim» (S Mai 94, 3).

Os Recém-nascidos, juntos entre as grades com suas túnicas brancas, são o sinal deste dia oitavo (octavus dies), o sinal da bem-aventurança eterna, Dia sem declínio «porque o Dia da vida eterna é um único dia sem declínio», «manhã que não tem tarde». A Páscoa, transitus, é a passagem para a felicidade, mas a felicidade só será perfeita ao cabo da passagem, «porque a eternidade, prefigurada pela nossa celebração da Oitava, não pode aumentar nem diminuir, lá é sempre hoje. É um dia que não começa com o fim de ontem e que não acaba com o princípio de amanhã, é sempre hoje (S Mai 94, 6).

Cristo é este «Hoje» da vida eterna. «Porque é que os dias aqui são maus? Porque um dia passa e vem outro dia; porque hoje passa para vir amanhã; porque ontem passa para vir hoje. Lá nada passa, é um único dia e este Dia é Cristo» (S Guelf. 86, 10).