Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 41
Segundo Roberto Pla, a mina única que o pretendente a investidura real dá em empréstimo durante sua ausência a cada um dos dez servos, não se diferencia em seu sentido do talento único dado ao terceiro servo pelo senhor do relato de Mateus (Parabola dos Talentos). A mina simboliza aqui, como o talento do primeiro evangelho, a Palavra, que o terceiro servo guarda em um lenço ou véu, “por medo”.
Este relato de Lucas mostra estranho descuido, ou pode estar mutilado, porque a princípio se fala de dez servos que recebem a mina única, mas logo se mencionam três, salvo que os sete restantes se contam como os inimigos condenados finalmente.
O ato de guardar a mina — a Palavra, o Cristo vivente — em um lenço ou véu, como as vendas ou o sudário que se envolve os mortos, resulta ainda mais expressivo que o talento sepultado na Parabola dos Talentos). Mas mostra quão difícil é crer firmemente — até o ponto de extrair a o talento de seu túmulo de esquecimento e de ignorância — em algo tão decisivo como a Palavra, Cristo, enquanto o que somos essencialmente, como algo eternamente vivo e real.
A parábola termina com uma perícope de duro sentido destinada provavelmente aos sete (?) servos restantes que se negaram a aceitar a realeza do único que podia os salvar. Nenhum servo, nenhum “psíquico”, carece ao nascer da mina que simboliza seu próprio ser; ninguém pode negar seu ser, pois isto é afirmado com a negação do que nega.
Os inimigos aos quais se refere a parábola são, certamente, não o que o Cristo vivente tem, a Palavra, e não aceito pela ignorância, senão o que o psíquico parecia ter e somente resultou ser palha para o vento. Quanto ao que é realmente, o Ser eterno, a palavra, convém recordar o que disse Jesus a Zaqueu quando entrava em sua casa (em seu interior).