Papel dos Anjos

Os mensageiros formam parte da corte celestial: tem como função cantar a glória de Deus (Sal 103,20), mas também levar mensagens aos seres humanos, interpretar suas visões (Dn 8,15-16) e, finalmente, apresentar à Deus as orações dos homens (Tob 12,12). Nos últimos séculos antes de Cristo se nomeia a três anjos: Miguel e Gabriel no livro de Daniel (10,13 y 8,21-23), e Rafael no Livro de Tobias (Tob 5,4-5 y 12,15). Outros nomes são designados a estes seres celestiais: «o exército do Senhor» (Jos 5,14), daí o nome de Deus Sabaot; os «santos» (Sal 89,6); os querubins» (Gn 3,24), touros alados com cabeça humana; os «serafins» (Is 6,2), os ardentes ou serpentes venenosas. No Livro de Job são chamados «filhos de Deus», no sentido que lhe pertencem. Entre eles, um mensageiro tem como função inspecionar os seres humanos e acusar os culpados: é Satã, o acusador, o adversário em um processo (Job 1,6). Alguns raros textos falam de seres celestiais maléficos (1 Re 22,22; Zac 3,1; ver Satã).


Deus criou os anjos diferentes pelas formas e dimensões com uma dupla meta: restabelecer a ordem (içlâh) nas suas obras e povoar seus céus.

Sua ação se estende à todas as categorias do ser criado. Em relação aos espíritos, eles tem por marca reprimir as revoltas dos djinns e dos shayâtîn, preservando as portas do céu de seus assaltos e de suas curiosidades (cf. infra, p. 191). Quanto aos homens, eles são os «mensageiros» de Deus (Cor. 53, 1), lhes incitando, por exemplo de sua fidelidade e sua docilidade, à seguir seus mandamentos, e os protegendo e sustentando na sua luta contra Iblis e os shayâtîn que se põe a obra para os afastar. No que diz respeito ao universo, no seu conjunto, eles regem todos os movimentos. Exército de Deus, seus «apóstolos», seus «discípulos», suas «ajudas», percorrem o universo e aí constituem a alma e o movimento. O céu é um anjo, a terra um outro, como são todos os corpos do universo e seus fenômenos, tais como a tempestade e o fogo. O fluxo e o refluxo são comandados por um anjo o qual, colocando seu pé no mar, produz o fluxo, e, o retirando, o refluxo (Ps.-Balkhî, I, 175).

Para poder se adaptar à seus múltiplos papéis, não é inconcebível que os anjos desposem as diversas espécies de ser; assim ter-se-ia anjos espirituais, corporais, vegetais e sólidos. O Corão (25, 48; 27, 63; 30, 46) atribui aos ventos um dos papéis assumidos pelos anjos: eles são «enviados» como «anunciadores de boas novas» (bushran, mubashshirat). Um verso atribuído à Umayya b.a. aç-Çalt confirma esta comparação: «eles vão e vem como o vento o qual, tão logo voltado à Oeste, retorna à seu ponto de partida sem ser estimulado.» [Toufy Fahd: Génies, Anges et Démons (tradução anotada de Antonio Carneiro)]