Ovelha Perdida [OPEI]

Atos de Tomé
*Fala uma jovem símbolo da alma, dando conta das penas infernais que contemplou em visão:
**Aquele que se assemelha me tomou e me consignou a ti, com estas palavras: “Tome-a, porque é uma das ovelhas perdidas”. Tu me acolheste e agora estou aqui em tua presença. Suplico-te, pois, (ajuda-me) para que vá a aqueles lugares de sofrimento que vi.
*Articulação com o Bom Pastor em João:
**Ó pastor bom, que te entregaste pelas próprias ovelhas e venceste o lobo e redimiste aos cordeiros teus e os conduziste a um pasto bom! Te louvamos e entoamos hinos a ti, e a teu invisível Pai, e a teu Espírito Santo, e à Mãe de toda a criação (= a Sophia).

Antonio Orbe: Parábolas Evangélicas em São Irineu

A primeiríssima antiguidade descuidou das diferenças entre Mt e Lc. Suspeito que algumas, no entanto, se valeram de pronto, por. ex., o lugar em que a ovelha se perdeu: “nos montes” em Mt e “no deserto” em Lc. Orígenes não se descuida uma única vez em eleger a versão de Lucas em suas referências. Vê também diferença entre a ovelha “perdida” (gr. apololos) e a “desvairada (gr. planomenon).

Entre os escritos apostólicos há algum vestígio, como por exemplo o Pastor de Hermas.

A parábola teve um trato excepcional pelos gnósticos, a começar por Simão Mago, segundo São Irineu. Marcion a interpretou segundo Tertuliano apresenta em seu Adv. Marc. IV 32,1. Marcion destaca a expressão alegórica da misericórdia de Deus, pelo que se pode entender das notícias tertulianas sobre seu discípulo Apeles. No entanto, examinando as citações a Apeles em Tertuliano se conclui que a ovelha perdida de Apeles não alude à metanoia de Gen 6,6 nem ao sentimento dos Arcontes ante a profecia de Adão (Gen 2,23), senão à metanoia, enquanto mudança de ignorância (= Erro) na aceitação da economia superior.

Taciano é outra exegese a mencionar, através do Diatessaron e por sua exegese pessoal. Alude de forma mítica à ovelha, símbolo da alma ou homem (essencial). No princípio alma feliz e contente com o Espírito Divino. Indócil a Ele, viu-se um dia
abandonada do Espírito, caiu em Erro (plane) e com ele na idolatria.

Os Simonianos têm algumas referências à parábola, apontadas por Irineu de Lião, servindo-lhes para o esquema do mito da salvação. A alma (= primeira ideia de Deus) sai do reino do Espírito, se multiplica em contato com a matéria e se torna múltipla ao princípio da origem. O tema é abordado em articulação com a economia de Ennoia, Primeiro Pensamento do Deus Ignoto. O símbolo Ennoia = ovelha perdida se reduz facilmente ao Anthropos (espiritual) = ovelha perdida.

Valentino e seus seguidores têm orientações distintas, talvez complementares. Uma, aritmética — a qual pertencem Marcos e o Evangelho da Verdade — que especulam sobre a perda do número perfeito 100, com a ovelha perdida: 99 + 1; e outra diretamente doutrinal — a de Ptolomeu e Heracleon, as duas místicas. A exegese de orientação doutrinal é seguida também pelo Evangelho de Tomé.

Entre os eclesiásticos, Tertuliano merece lugar relevante. Cipriano em suas cartas também referencia a parábola; Clemente de Alexandria se refere a ela no tocante a Lei Mosaica. Orígenes é aquele com mais referências e análises.

Por último, Irineu de Lião omite a alegoria numérica, repugnando a exegese gnóstica assim como origeniana: o homem é o plasma; formado por Deus, caiu no pecado, morte, cativeiro, exílio; eis aí o Adão, o homem “feito de barro” “à imagem e semelhança de Deus”, que falta a seu Criador e sem perder sua amizade — inicia uma existência errante, fora do Paraíso, com o prenúncio do Redentor.