Origenes Oratio Conditio

Orígenes — Tratado da Oração
VIII Condições da oração
Não é absurdo usar de exemplos, como o seguinte, para levar os homens a orar e afastá-los da sua negligência. Como, em verdade, não é possível ter filhos sem o concurso da mulher e do ato necessário à geração, assim também ninguém obterá isto ou aquilo, senão orando de tal modo, com tal , e não tiver antes de orar vivido da seguinte maneira. Assim, portanto, não multipliques as palavras, não peças coisas insignificantes, nem coisas terrenas, nem venhas à oração encolerizado e de ânimo perturbado.

É também incompreensível que alguém se entregue à oração sem a devida purificação. Como também não pode aquele que ora alcançar o perdão dos seus pecados, se não tiver, de coração, perdoado o irmão que o ofendeu e lhe pede indulgência (cf. Mt 18,21-22).

Penso que muitas são as vantagens destinadas a quem ora conforme convém ou se esforça a isto, na medida das suas forças.

Antes de mais nada, é do maior proveito que a pessoa, preparando-se em espírito antes da oração, guarde essa atitude enquanto ora, e imagine que está na presença de Deus e lhe fala, como a alguém que por sua vez, também o vê e lhe está presente.

Assim como certas imaginações e lembranças guardadas na memória mancham os pensamentos delas oriundos, assim também — devemos crer — é útil essa recordação da presença de Deus em quem pusemos a nossa confiança, e que conhece todos os movimentos da alma em suas últimas profundezas. Ele conhece, assim, que aquela alma se compõe para lhe agradar como a alguém que está presente e olha e açode a todo pensamento, aquele que examina os corações e perscruta os rins (cf. Sl 7,10).

Ainda que, por hipótese, aquele que dispõe o seu espírito para orar não colhesse disto nenhum fruto, não seria de pouco valor para ele ter-se recolhido tão piamente na hora da oração. Quantos pecados são evitados, quantas virtudes concorrem para esse hábito, sabem-no perfeitamente, por experiência, aqueles que assiduamente se dedicam à oração. Se, com efeito, a lembrança e a consideração de um homem bondoso e sábio nos provocam à emulação e refreiam as nossas inclinações ao mal, quanto mais a recordação de Deus, Pai de todas as coisas, unida à oração a ele dirigida, ajudará aqueles que estão certos de se encontrar na presença de Deus, estar junto dele, escutá-lo e com ele falar!