ORÍGENES — COMENTÁRIO AO EVANGELHO DE MATEUS
(10,1; P.G. 13, 836s; S.C. 162 — tradução Cirilo Folchs Gomes)
VIDE: MULTIPLICIDADE DE EUs; MORADA; LUGAR; MORADA DE DEUS
A CASA DE JESUS
“Então, despedindo as turbas, entrou em sua casa. E os discípulos se aproximaram dele, dizendo: explica-nos a parábola do joio no campo” (Mt 13,36).
Quando Jesus está com as turbas não está em casa, pois, as turbas se acham fora; e a obra de seu amor pelos homens consiste mesmo em abandonar a casa e ir aos que não podem vir a ele. Mas depois, quando falou suficientemente às turbas, ele as deixa e vai para sua casa, onde os discípulos vêm juntar-se, também não ficando com as turbas que ele deixou. A verdade é que todos os que escutam a Jesus com maior sinceridade, primeiramente o “seguem”, depois lhe “perguntam onde está sua casa”, desejam vê-la, e enfim vão até lá ver e ficar com ele, “por todo aquele dia”, alguns talvez mais tempo. É o que, na minha opinião, resulta do evangelho segundo João, na passagem: “no dia seguinte, João estava lá novamente com dois de seus discípulos”; além disto, para mostrar que entre aqueles a quem foi dado acompanhar Jesus e conhecer sua casa, o homem superior se torna apóstolo, prossegue o evangelho nestes termos: “André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham escutado a palavra de João e seguido a Jesus”.
Quanto a nós, portanto, se não queremos ouvir a Jesus como as turbas que ele deixa para voltar à casa, cabe-nos tomar uma atitude que nos distinga das turbas e nos faça familiares de Jesus, a fim de o seguirmos, como os discípulos, quando ele “entra em sua casa”; cabe-nos “aproximar-nos” dele para interrogá-lo sobre a explicação da parábola, seja a do joio ou qualquer outra. Ora, para compreender de maneira mais precisa a realidade significada pela “casa de Jesus”, recolha-se, através dos evangelhos, tudo que disser respeito a ela, ao que ele diz e ao que ele faz: o confronto dessas passagens persuadirá o leitor atento não ser tão simples, como pensam alguns, o texto do evangelho: este foi apresentado, segundo a Economia, de um modo simples aos simples, mas para os que aspiram entender mais profundamente — e que disto forem capazes — esconde realidades cheias de sabedoria e dignas do Verbo de Deus.