Objeto de Desapego é Nada [MEHT:15]

Em outras palavras, na visão de Eckhart, está aberta ao homem interior a possibilidade de se elevar à contemplação da essência divina, seja por meio de uma forma ou ideia que lhe é diretamente implantada por Deus, seja por meio de uma forma completamente não-humana, cognição representacional (ohne Bilde). Por meio dos sentidos, o homem habita entre as coisas e a representação (Bild, Bildvorstellung) das coisas. Mas o homem desapegado, que é o homem interior, afasta-se tanto das coisas como das suas representações, a fim de alcançar uma união com Deus, que é Ele próprio “nada”, e de quem o homem desapegado não forma e não pode formar uma imagem.

Eckhart conclui este tratado fazendo duas perguntas relativas ao desapego que são bastante úteis para determinar o seu verdadeiro caráter. A primeira questão é: qual é o objeto do desapego puro? A isto Eckhart responde que “. . . nem isto nem aquilo é objeto de puro desapego” (DW, V, 544/Cl., 167). O objeto (Gegenstand; mhd: gegenwurf) do desapego é “nada”, o nada; na verdade, diz ele, “visa um puro nada”. Eckhart explica isso da seguinte forma:

Deus não pode trabalhar em todos os corações com toda a Sua vontade porque, embora Ele seja todo-poderoso, Ele só pode trabalhar na medida em que encontra ou faz uma preparação [para Si mesmo]. (DW, V, 544/Cl., 167)