Nilo Discípulos Cristo

Nilo do Sinai — DISCURSO ASCÉTICO

Só os discípulos do Cristo viveram segundo a verdadeira filosofia.

4. Foi, com efeito, o primeiro a abrir o caminho por sua vida, mostrando uma conduta pura, elevando sempre a alma acima das paixões do corpo e a desprezando finalmente quando a salvação dos homens da qual estava encarregado exigiu sua morte. Nos ensinou assim que aquele que abraça corretamente a filosofia do alto deve, por um lado, rejeitar todos os prazeres da vida e, por outro lado, penar e dominar inteiramente as paixões em desprezando o corpo; deve também não se ater à vida e estar pronto a perdê-la se é preciso dar este testemunho à virtude. É a maneira de viver que os santos apóstolos imitaram quando foram chamados e que ao mesmo tempo renunciaram a sua vida, desdenhando pátria, raça e riquezas para passar em seguida a uma existência dura e penosa, andando através de todas as dificuldades, atormentados, maltratados, perseguidos, despojados, privados mesmo do necessário. Finalmente enfrentaram corajosamente a morte, imitando bem em tudo o Mestre e deixando assim a mais bela imagem de conduta.

Os cristãos deveriam em seguida reproduzir seu exemplo e como todos não têm a vontade ou a força de os imitar, alguns puderam se elevar acima dos problemas do mundo e fugir da agitação das cidades. Saídos deste tumulto para abraçar a vida solitária, eles aí puseram a marca da virtude apostólica, preferindo a pobreza à propriedade para não se deixar distrair; amando melhor um alimento improvisado ao invés de refeições rebuscadas, por causa das revoltas das paixões, atendiam às necessidades corporais como o que encontravam: desdenhando como uma invenção da fraqueza humana os hábitos preguiçosos e supérfluos, se contentam para a necessidade do corpo de uma veste simples e sem adereços (desprezam as delícias); julgando estranho à filosofia o espírito que rejeita a ocupação das coisas celestes para se ocupar com as coisas daqui e do que acontece também aos animais, ignoram o mundo e vivem fora das paixões humanas; nenhum entre eles comete fraude nem sofre fraude; nenhum leva à justiça, nem é levado.

5. Cada um tinha, com efeito, como juiz íntegro sua própria consciência, nenhuma estava na opulência, nenhum na indigência; ninguém estava esgotado de fome, ninguém empanturrado de comida, pois a liberalidade dos ricos sobressai às necessidades dos indigentes. Havia equidade e repartição igual, a desigualdade sendo suprimida pela comunhão voluntária dos superiores com os inferiores. O melhor, não era nem a igualdade, pois então o zelo com o qual se apressava a se abaixar fazia uma desigualdade, como faz agora a mania de rivalizar para obter mais glória. A gana estava excluída, a inveja proscrita, a vanglória banida, o orgulho caçado, todas as causas de contestações estavam suprimidas, Pois alguns estavam mortos às mais fortes paixões e insensíveis, não tendo nem mesmo fantasmas em sonho; desde o início rechaçaram a memória. Por ascese cotidiana e a paciência, alcançaram este estado e tornados como chamas brilhando nas trevas, estrelas fixas resplandecendo na sombria noite da vida e mostrando a todos um acesso fácil ao porto, à distância da tempestade, a fim de escapar sem dano às tentativas das paixões.